Ágora Privatizada – A importância das praças e áreas verdes urbanas

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O tédio e a insalubridade são condições frequentemente atreladas à caótica existência de sociedades industriais mal planejadas. Apesar do potencial benefício que as políticas públicas produzem na qualidade de vida de uma sociedade, o Estado brasileiro não tomou iniciativas suficientes, a despeito dos projetos urbanísticos pontuais assumidos no início do século XX, pela manutenção de parques, bosques e praças. Esses projetos, mesmo que parcos, modificaram de maneira significativa as expectativas relacionadas a paisagem urbana das grandes cidades. O lazer e o bem estar, por conta de demandas organizadas da sociedade, tornaram-se atribuições públicas.

A expansão dos espaços urbanos cria uma contradição entre as questões sócio-ambientais e o interesse econômico. As necessidades de harmonização do espaço se chocam com as demandas utilitárias do mesmo. Com o crescimento populacional da cidade de Campinas, observa-se que a relação cidade e natureza assume feições cada vez mais problemáticas. Nota-se com falicidade praças e jardins abandonados por uma esfera pública que, incumbida das responsabilidades obscuras dos gabinetes, acabou por engendrar uma desconfiança da população nas instituições. O Estado, desprestigiado, colaborou ativamente no processo de perda de referência das áreas públicas de convivência como partes constitutivas do cotidiano da sociedade. As ideologias de privatização e mercantilização do espaço, nesse sentido, reforçaram o papel marginal, secundário, do poder público: as preocupações coletivas foram engessadas, substituídas por rentabilidades econômicas exclusivistas.

Pode-se dizer que estas esferas públicas, quando integram políticas de Estado, desempenham um papel fundamental na paisagem de um espaço urbano. As áreas verdes e as praças aparecem como campos, inseridos no sistema metropolitano, em que as necessidades econômicas da cidade não excluem os benefícios ecológicos da natureza ou as vantagens lúdicas do lazer. Ocorre, desta forma, uma certa harmonização das contradições entre o cinza concreto da grande cidade e o verde simbólico da natureza. Entretanto, em função do descaso de muitos e do lucro de poucos, os grupos sociais buscam a recreação e o entretenimento nos ambientes fechados dos shoppings e dos centros similares de consumo. Com o objetivo de pretensamente substituir, “compensar”, as necessidades da população em relação ao bem público com o dinheiro, o mercado mantém a lógica perversa de privatizar a convivência, aniquilar o verde e subtrair o lazer.

É emergencial a adoção de políticas eficientes nos campos urbanístico e ambiental das cidades. A negligência dos poderes constituídos com as esferas públicas de convivência desloca a atenção da sociedade para atividades privadas, exploradas pela livre iniciativa. O sucateamento desses patrimônios, promovido por governos de consciências privatizadas, cria o nicho necessário para que as empresas possam auferir seus lucros a partir de demandas legítimas de uma população. São nestes espaços, regidos por aspirações econômicas particularizadas, que as pessoas buscam a beleza e a felicidade individuais, confundidas com bem estar social. Deve-se, então, por meio da pressão dos organismos combativos da sociedade civil, garantir a aplicação do dinheiro arrecado pelo Estado em esferas de utilidade pública, independentes das injunções de corporações. Que a ágora seja republicana, coletiva e democrática.

Marilza O. Amate,
geógrafa e educadora ambiental e
Guilherme Amate,
graduando em história
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