O lixo eletrônico virou um desafio no mundo inteiro, já que a indústria de eletroeletrônicos uma das que mais cresce atualmente. Inerente essa produção e consumo imensos, está a dificuldade de reciclar materiais de produtos cuja a vida til programada para ser cada vez mais curta. De acordo com o Programa para o Meio Ambiente da ONU (Pnuma), em todo o mundo, a quantidade de lixo eletrônico descartado neste ano deve chegar a 50 milhões de toneladas.
Apenas a América Latina produz por ano uma média de 9% de todo o resíduo do setor no planeta. Na região, o Brasil o país que mais gera lixo eletrônico: foram 1,4 milhão de toneladas por ano (de acordo com dados de 2014).
Segundo a ambientalista Ana Maria Dominguez Luz, presidente do Instituto GEA, Ética e Meio Ambiente, o problema torna-se ainda mais grave diante da dificuldade da aplicação de leis sobre a questão no Brasil. “O país tem uma legislação sobre resíduos que foi assinada em 2010, que trata sobre o lixo eletrônico e a necessidade de seu recolhimento e reciclagem. No entanto, na prática, na maioria das cidades brasileiras, no existe nenhum sistema público colocado disposição da população ou das empresas”, diz.
À RFI, ela explicou o perigo do descarte desses materiais como resíduo convencional. “Como dentro de um produto eletrônico há metais pesados como Mercúrio, Cádmio, Chumbo. Se isso vai parar na rua, na beira de um rio ou em aterros clandestinos, você tem uma contaminação do ambiente em volta”, diz.
ELETRÔNICOS FRANCESES CONTAMINADOS COM BROMO
A França produz anualmente 1,3 milhão de toneladas de lixo eletrônico. O país conta com uma legislação rígida sobre a questão, mas, há alguns anos, vem enfrentado um outro problema: a presença do Bromo, altamente tóxico, em quase 40% de seus produtos.
Segundo Olivier Guichardaz, editor-chefe do Dechets Infos, portal especializado no assunto, o Bromo, que serve para evitar a combustão do plástico, torna o descarte e a reciclagem dos produtos mais difícil e perigosa. O especialista enfatiza que algumas variações dessa substância foram até mesmo proibidas de serem recicladas na França “devido ao perigo que elas representam, para o ambiente e para a saúde das pessoas”.
“Há o risco para as pessoas que trabalham em usinas que reciclam esse tipo de plástico bromado. O pó proveniente da reciclagem desse material, com retardadores de chamas, é potencialmente perigoso para a saúde. O outro risco colocar no circuito de reciclagem plásticos bromados, altamente poluentes”, afirma.
COMÉRCIO ILEGAL
Um recente relatório divulgado pela ONU aponta que entre 60% e 90% dos resíduos eletrônicos de todo o mundo são comercializados ilegalmente ou jogados de forma incorreta no lixo, ocasionando graves problemas ambientais e sanitários.
Para Ana Maria Dominguez Luz, a problemática mostra o quanto a conscientização de empresas e consumidores necessária. “É notório que não podemos mais continuar jogando lixo como hoje. Afinal, a reciclagem é uma alternativa, mas não a melhor delas. A melhor solução seria se houvesse no planejamento do produto uma forma de tornar essa reciclagem ou recuperação de partes do produto mais fácil e mais simples.”