Metal com potencial de causar câncer continua sendo utilizado nas indústrias automobilística e eletrônica
Baseado em fatos reais e já ficando antigo, o filme Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000), com Julia Roberts, conta a história dos trágicos efeitos da contaminação por cromo da população de uma cidade americana onde muitas pessoas haviam desenvolvido câncer.
Infelizmente, ainda hoje o cromo VI – metal de alta toxicidade e prejudicial à saúde humana – é amplamente empregado na indústria automobilística, na metalurgia, eletrônica e aeronáutica. Pesquisadores da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP e da University of Surrey-UK, Inglaterra, se uniram para buscar alternativas para eliminar sua utilização.
Antes mesmo do escândalo e da repercussão do caso da Pacific Gas And Eletric Company (PG&E), nos Estados Unidos, onde vários casos de cânceres surgiram associados à contaminação ambiental (lençol freático) por cromo hexavalente, estudos já eram realizados no mundo todo para se encontrar substituição para o cromo VI devido a sua toxicidade.
As pesquisas da USP com a da University of Surrey-UK já estão em andamento e o projeto Development and characterization of chromium-free layers applied on galvanised steel foi contemplado pelo programa Sprint – São Paulo Researchers in International Collaboration – da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os pesquisadores envolvidos no trabalho são Célia R. Tomachuk, da EEL, e Mark A. Baker, da University of Surrey-UK. O projeto teve ainda a parceria de José Mário Ferreira Júnior, pós-doutor financiado pelo programa Ciências sem Fronteiras e do doutorando Gustavo Ferraz Trindade, financiado pela Capes.
Intercâmbio
O programa visa a estabelecer o intercâmbio entre pesquisadores de instituições estaduais paulistas e pesquisadores do exterior com o objetivo de promover avanços em resultados de pesquisas de grande relevância para o mundo científico. O projeto prevê a mobilidade de alunos e docentes de ambas as instituições e tem vigência de 24 meses.
As pesquisas serão realizadas concomitantemente nas duas universidades e as alternativas a serem testadas são os eletrólitos contendo sais de cério e/ou sais de zircônio utilizando o processo de deposição química, explica Célia. A realização de ensaios de corrosão aliados à caracterização dos materiais para entender a composição e a morfologia dos novos revestimentos alcançados com diferentes condições de processo permitirá compreender a relação entre as propriedades e a estrutura dos novos sistemas.
“Aqui serão obtidos novos revestimentos e avaliadas as propriedades protetivas contra a corrosão. No exterior será feita a caracterização de sua superfície”, relata a pesquisadora.
Célia afirma que há grandes expectativas de se aprimorar o processo de obtenção de revestimentos isentos de íons de cromo conciliando os seguintes fatores: efeitos toxicológicos e ambientais; viabilidade técnica e econômica e desempenho frente à corrosão compatível ao do cromo hexavalente.
Segundo a pesquisadora, “o trabalho em conjunto irá contribuir significativamente para o esforço atualmente desenvolvido em todo o mundo para encontrar um substituto ecologicamente amigável, economicamente aceitável e tecnicamente eficaz para revestimentos à base de íons de cromo”. “Indiscutivelmente, os avanços nesta área trarão progressos expressivos para a indústria e para o meio ambiente, podendo, assim, impedir que milhares de pessoas continuem a ser contaminadas pelo cromo hexavalente”, conclui.
Fonte: Jornal da USP