A ética ambiental leva em conta a responsabilidade do ser humano com as gerações futuras, com todos os demais seres vivos inclusive a espécie humana e com o meio ambiente. A agricultura com base agroecológica é uma opção de desenvolvimento sustentável, que faz bem ao ser humano, aos seres vivos e ao meio ambiente.
Caporal e Costabeber (2002) trazem a idéia de que se tem vinculado a Agroecologia, à oferta de produtos “limpos”, ecológicos, insentos de resíduos químicos, em oposição
àqueles característicos da Revolução Verde. A Agroecologia nos traz a idéia e a expectativa de uma nova agricultura, capaz de fazer bem aos homens e ao meio ambiente como um todo, afastando-nos de uma agricultura intensiva de capital, energia e recursos naturais não-renováveis, agressiva ao meio ambiente, excludente do ponto de vista social e causadora de dependência econômica.
A Agroecologia, segundo Caporal e Costabeber (2002), precisa ser entendida com um enfoque científico, uma ciência ou um conjunto de conhecimentos que nos ajuda tanto para a análise crítica da agricultura convencional, como também para orientar o correto redesenho e o adequado manejo de agroecossistemas, na perspectiva da sustentabilidade.
O enfoque agroecológico traz consigo as ferramentas teóricas e metodológicas que auxiliam a considerar de forma holística e sistêmica, as seis dimensões da sustentabilidade: a Ecológica, a Econômica, a Social, a Cultural, a Política e a Ética.
Para Caporal e Costabeber (2002), uma agricultura que trata apenas de substituir insumos químicos convencionais, por insumos alternativos, “ecológicos” ou “orgânicos”, não necessariamente será uma agricultura ecológica em sentido mais amplo. É preciso ter em mente que a simples substituição de agroquímicos por adubos orgânicos mal manejados, pode não ser a solução. A produção agroecológica desencadeia uma série de conhecimentos e saberes, do homem aprendendo em harmonia com a natureza.
Para Gliessman (2001), o termo “sustentabilidade”, tem significados diferentes na bibliografia, mas destaca que todos estão de acordo, que o termo tem uma base ecológica. No geral a produção sustentável deveria dar a condição de produção hoje, tendo capacidade de se renovar no amanhã, sem comprometimento.
Porém não se pode provar a “sustentabilidade”, pois sua prova está no futuro, fora do nosso alcance; porém é possível observar quando uma prática está se afastando da “sustentabilidade”. Isso é notado pela contaminação da água e do solo, estagnação da produção, pobreza do solo, entre outras causas.
O conceito de sustentabilidade segundo Costabeber e Caporal (2004), é aquele que promove um desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer as suas próprias necessidades.
Doering (apud COSTABEBER e CAPORAL, 2004, p.38), diz que a agricultura sustentável implicaria numa menor utilização de inputs externos e a introdução de novos métodos de gestão e novos sistemas de cultivo, privilegiando o melhor aproveitamento e recursos localmente disponíveis. Esses métodos deveriam exercer uma mínima pressão sobre o meio ambiente com o objetivo de permitir a manutenção da produtividade em longo prazo.
Altieri (apud COSTABEBER e CAPORAL, 2004, p.36), considera que os elementos decisivos de um agroecossistema sustentável seria a conservação dos recursos renováveis, a adaptação das espécies cultivadas às condições ambientais e a conservação de níveis moderados, porém sustentáveis, de produtividade. Considerando a agricultura sustentável com base ecológica como aquela que persegue um meio ambiente balanceado, rendimento e fertilidade do solo sustentáveis e controle natural de pragas, mediante o desenho de agroecossistemas diversificados e o emprego de tecnologias auto-sustentáveis.
Gliessman (apud COSTABEBER e CAPORAL, 2001, p.47), põe em evidência, que a agricultura do futuro deverá, além de ser sustentável, altamente produtiva com o fim de proporcionar os alimentos requeridos por uma população que segue aumentando, estando num duplo desafio hoje, sustentabilidade e produtividade.
Segundo ALTIERI (2002, p.26):
A Agroecologia geralmente representa uma abordagem agrícola que incorpora cuidados especiais relativos ao ambiente, assim como aos problemas sociais, enfocando não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica do sistema de produção. A Agroecologia oferece, portanto, uma abordagem alternativa, que vai além do uso de insumos alternativos, buscando o desenvolvimento de agroecossistemas integrados e com baixa dependência de insumos externos. A ênfase está no planejamento de sistemas agrícolas complexos onde as interações ecológicas e os sinergismos entre os componentes biológicos substituem os insumos promovendo os mecanismos de sustentação da fertilidade do solo, da produtividade e da proteção das culturas.
A diversificação da produção, que ocorre nas unidades familiares é uma prática de grande importância para a mudança da concepção da agricultura atual. Aliada a diversificação é possível se encontrar alguma atividade voltada à agroecologia. De acordo com SOUZA (2005, p.21):
Sistemas de produção diversificados são mais estáveis porque dificultam a multiplicação excessiva de determinada praga e doença e permitem que haja um melhor equilíbrio ecológico no sistema de produção, por meio da multiplicação de inimigos naturais e de outros organismos benéficos.
Além do mais, segundo Souza (2005), em um estudo das características dos solos em sistema orgânico de produção de 10 anos (1990 a 2000) na Área Experimental de Agricultura Orgânica do INCAPER, verificou que o manejo orgânico dos solos permite melhorar suas características químicas com o passar dos anos, proporcionando bom nível de nutrição das plantas e viabilizando a produção orgânica de alimentos.
Doran e Parkin, 1994 (apud VEZZANI, 2001, p.7), colocaram um conjunto básico de indicadores de ordem física, química e biológica importantes para a qualidade do solo: textura, profundidade do solo e raízes, densidade do solo, infiltração, capacidade de armazenamento e retenção de água, conteúdo de água, temperatura do solo, carbono e nitrogênio orgânico total, pH, condutividade elétrica, nitrogênio mineral, fósforo, potássio, carbono e nitrogênio da biomassa, nitrogênio potencialmente minerável, respiração do solo, carbono na biomassa em relação ao carbono total e respiração microbiana em relação à biomassa.
Esses indicadores estão relacionados às seguintes funções do solo: habilidade de regular e compartimentalizar o fluxo de nutrientes e químicos, promover e sustentar o crescimento de plantas, manter um habitát biológico adequado, responder ao manejo resistindo a degradação.
Segundo Vezzani (2001), o sistema solo é o resultado de complexas interações dos sistemas minerais, plantas e microorganismos. O seu funcionamento ocorre pela passagem do fluxo de energia e matéria, o qual se caracteriza pela entrada de compostos orgânicos adicionados pelas plantas e transformados pelos microorganismos. Conforme este fluxo, o sistema se auto-organiza em estados de ordem, os quais são representados de certa forma, pela hierarquia de agregação do solo. O processo de agregação consiste na formação em seqüência de estruturas cada vez mais complexas, conduzida pela entrada de compostos orgânicos. Estas estruturas possuem níveis de ordem, que aumentam conforme aumentam a interação entre os minerais, as plantas e os microorganismos.
Muitas pessoas, principalmente os agricultores, possuem incertezas, quanto ao uso da prática agroecológica dar certo, bons resultados e bons rendimentos. Muller et al (2000), fornece importantes questões práticas. A agricultura agroecológica será uma agricultura do futuro, que poderá sustentar-se ao longo dos anos. A base está na educação e no conhecimento e o desafio está em entender e analisar o âmbito tão sistêmico do agroecossistema que sua prática nos fornecerá.
A transição da agricultura convencional para a agroecológica não ocorre de uma hora para outra, mas sim, ela deve ser moldada no tempo, enfrentando, muitas vezes a resistência devido à cultura dos agricultores e a visão que eles acabaram criando que é de uma volta aos meios de produzir antigos. Nesse sentido, é necessário mostrar que isso não é verdade e que a agricultura convencional praticada é insustentável ao longo do tempo.
De acordo com CAPORAL (2002): A transição da agricultura convencional para agriculturas sustentáveis ocorre mediante um processo gradual de mudanças, nas formas de manejo dos agroecossistemas, num processo que será contínuo e multilinear, no qual vão sendo apropriados e incorporados novos princípios, métodos, práticas e tecnologias e ao redesenho dos agroecossistemas para assegurar patamares mais adequados de sustentabilidade em todas as suas dimensões.
Segundo Costabeber (2002), algumas premissas devem ser observadas quando se trabalha a partir do enfoque agroecológico. É necessário atender a requisitos sociais, considerar aspectos culturais, cuidar do meio ambiente, apoiar o fortalecimento de formas associativistas e de ação coletiva, contribuir para a obtenção de resultados econômicos e atender a requisitos éticos. Assim, a agricultura agroecológica passa a ser vista de uma maneira sistêmica e sustentável.
Quanto às práticas da agricultura agroecológica, Costabeber (2002), levanta alguns pontos. Para ele a agricultura com base ecológica possui outra visão em relação ao modelo convencional. Começa pelo resgate de espécies nativas e práticas que aumentem a biodiversidade, estabelecendo a inter-relação e a harmonia nos agroecossistemas e propiciando redução no aparecimento de pragas e doenças. Dentre as práticas da Agroecologia estão: uso de espécies adaptadas às condições locais, ciclagem de nutrientes, diversificação do ambiente de cultivo, nutrição equilibrada das plantas, otimização do uso dos recursos locais e outros. A Agroecologia possui uma visão holística, intervindo de maneira sistêmica no agroecossistema, abordando além do lado econômico, a dimensão ambiental, cultural, política e ética.
A implantação do modelo agroecológico, que potencializa a multifuncionalidade da propriedade é favorecido na agricultura familiar. A agricultura familiar apresenta, segundo Costabeber (2002), reconhecida eficiência produtiva, e relevante contribuição para a conservação dos recursos naturais e proteção da biodiversidade, pois o agricultor possui uma visão de toda a sua propriedade. É também, a forma de organização mais próxima dos preceitos da Agroecologia e, portanto da sustentabilidade, devendo ser vista como auto-suficiente e sistêmica. Além disso, diversificando a produção o agricultor corre menos risco de perdas. Se um ano uma cultura der pouco lucro ele tem a outra para vender e se sustentar.
Segundo Costabeber e Melgarejo (2002), o objetivo da pesquisa agroecológica é a otimização do equilíbrio do agroecossistema como um todo, o que exige maior ênfase em conhecimento, análise e interpretação das complexas relações existentes entre as pessoas, os cultivos, o solo, a água e os animais. A agroecologia corresponde ao campo de conhecimento que proporciona as bases científicas para apoiar o processo de transição desde o modelo de agricultura convencional em direção a estilos de agricultura de base ecológicas ou sustentáveis, ou seja, do modelo convencional de desenvolvimento rural a processos de desenvolvimento rural sustentáveis.
A agricultura agroecológica é um modelo sustentável de agricultura, que beneficia o ser humano, os seres vivos, e o meio ambiente como um todo. Ou seja, cria uma ética ambiental que beneficia a todos presente e futura gerações!
Autora: Juceleine Klanovicz
Referências Bibliográficas
ALTIERI, Miguel. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária, 2002.592p.
CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia: enfoque científico e estratégico. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, v.3, n.2, p.13-16, abr./jun. 2002.
CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Análise multidimensional da sustentabilidade. Uma proposta metodológica a partir da Agroecologia. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre,v.3, n.3, jul./set. 2002.
GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável.2 ed. Porto Alegre:Ufrgs, 2001.153p.
SOUZA, Jacimar Luis de. Agricultura Orgânica: tecnologias para a produção de alimentos saudáveis. Vitória, ES: Incaper, 2005.2V.257p.
VEZZANI, Fabiane Machado. Qualidade do sistema solo na produção agrícola, 2001. 183 f. Tese )Doutorado em Ciência do solo) – Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.