Marca de moda brasileira abriga ex-detentos como funcionários e usa 100% de algodão orgânico

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Em meio às crises políticas no nosso país, é importante ficar ciente de projetos bons no lugar em que vivemos. A PanoSocial é, além de uma marca, um projeto social: seus produtos (camisetas, ecobags e aventais) são feitos de algodão orgânico e a maioria de seus funcionários são ex- detentos.

 Os sócios tiveram a ideia no fim de 2015. Natacha Lopes Barros, 39, produtora executiva de moda, e o designer Gerfried Gaulhofer, 44, já contrataram entre seus funcionários, seis ex-detentos e pretendem aumentar o número de matérias primas orgânicas ainda não produzidas no Brasil.

Eles vêm do Projeto Segunda Chance, da ONG AfroReggae, que visa inserir egressos do sistema prisional no mercado de trabalho, a partir da Funap, órgão que desenvolve programas sociais para presos e ex-detentos e também através da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), por meio da SERT. Natacha e Gerfried também já anunciaram e divulgaram através do Facebook.
Foto: Pablo Saborido

Em agosto de 2016, Paulo Tadeu Silva, 64, foi o primeiro funcionário contratado pela PanoSocial. Ex-detento, passou 29 anos em reclusão, somando seus dois períodos de prisão. Ela já possuía experiência em corte e costura e costuma chamar a equipe de “família”.

“A gente não se trata como empregado, patrão, nós somos iguais em todos os sentidos. Me sinto mais valorizado como pessoa”, diz ele para o Projeto Draft.

Com o emprego fixo, Paulo já tem casa própria e uma chácara, (onde começou a plantar produtos orgânicos), além de poder aprimorar diariamente seu talento em costura e modelagem.

Foto: Danilo Mantovani
Há 15 anos, Gerfried, que é austríaco, resolveu conhecer o Brasil. Acabou ficando de vez e se  impressionou com nossos problemas sociais.
Vindo de um país de primeiro mundo, o choque das diferenças foi muito grande. “Ele foi morar na baixo Augusta, onde precisava se desviar dos mendigos para atravessar a rua”, conta Natacha, sócia e parceira de vida.
Foi um padre austríaco, que servia como mediador de conflitos na penitenciária do Carandiru, que apresentou o sistema prisional brasileiro a Gerfried.
E ele sentiu que deveria, de alguma forma, contribuir para que ex-detentos pudessem voltar a uma profissão com mais dignidade.  O designer nunca havia empreendido ou trabalhado na área antes, mas durante as análises de setores de mercado, o casal descobriu que a moda é o setor com maior impacto ambiental, apenas perdendo para o petróleo. Com isso, resolveram descobrir matérias-primas orgânicas para produzir camisetas e outros produtos. O principal é o algodão 100% orgânico, seguido do algodão desfibrado e 100% de PET reciclado. Nos dois casos eles utilizam pigmentos e corantes naturais.

Foto: Pablo Saborido

Já o interesse da Natacha surgiu quando ela percebeu que o seu trabalho na época contribuía para o aumento do desejo pelo consumo. Ela trabalhava com campanha de grandes marcas e com editoriais de grandes revistas.
“No ramo da confecção tem muita bagunça, pessoas trabalhando em regimes análogos à escravidão, um sistema muito injusto onde uma marca vende camiseta a 120 reais enquanto o costureiro está ganhando entre 70 centavos e dois reais por peça”, disse. “Uma pessoa, com trabalho digno, que tem orgulho de sair de manhã e voltar à noite empregado podendo mostrar isso por seus filhos é um grande avanço social”.

Fotos: Blog

A Pano trabalha, hoje, com a produção da própria grife e também confecciona produtos para marcas e instituições — como o Greenpeace, Korin e C&A. Para a atender a estes pedidos maiores, a empresa ainda contrata costureiros terceirizados.
As camisetas da Pano podem ser compradas online, no site da empresa, por preços que partem de 66 reais e vão até 150 reais.


Fotos ©Pablo Saborido e Danilo Mantovani / Com informações de Projeto Draft.

Fonte: razoesparaacreditar.com

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