¹ Patrícia Menegaz de Farias
¹ Acadêmica do curso de Agronomia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
O Manejo Integrado de Pragas, por definição, compreende a utilização dos mais variados métodos de controle, sendo que para a implementação efetiva do MIP é necessário que se entenda e se planeje o agroecossistema em questão, que se analise a questão custo/benefício da implementação do MIP e que se conheça a tolerância da cultura aos danos das pragas (PANIZZI et al PARRA,1991).
O número de espécies de insetos descritas é estimado em aproximadamente um milhão, das quais cerca de 10% são pragas, prejudicando plantas, animais domésticos e o próprio homem. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), cerca de 5.000 novas espécies são coletadas e identificadas anualmente.
Segundo GALLO (2002), os danos causados pelos insetos às plantas são variáveis, podendo ser observados em todos os órgãos vegetais, entretanto dependem da espécie e do nível populacional da praga, do estádio de desenvolvimento e estrutura vegetal atacada e da duração do ataque, obtendo assim um maior ou menor prejuízo quantitativo ou qualitativo.
Para PASCHOAL (1979) tantos foram os problemas surgidos com a utilização de inseticidas organossintéticos, principalmente o DDT (dicloro – difenil – tricloroetano), diante disso necessitou-se uma revisão dos conceitos e objetivos tornando necessário um reestudo das metodologias e da filosofia do controle de pragas. Ressalta-se ainda que a metodologia foi modificada para incluir controle biológico ao lado do controle químico, sendo que o controle químico utilizado apenas para possibilitar uma ação mais eficiente dos inimigos naturais e competidores.
A definição de Manejo Integrado de Pragas (MIP) adotada por um painel organizado pela Food and Agriculture Organization (FAO) proferiu que MIP “é o sistema de manejo de pragas que no contexto associa o ambiente e a dinâmica populacional da espécie, utiliza todas as técnicas apropriadas e métodos de forma tão compatível quanto possível e mantém a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico”.
Por assim dizer, os fundamentos, tanto do Controle Integrado como do Manejo Integrado de Pragas, baseiam-se em quatro elementos: na exploração do controle natural, dos níveis de tolerância das plantas aos danos causados pelas pragas, no monitoramento das populações para tomadas de decisão e na biologia e ecologia da cultura e de suas pragas (FERREIRA et al Cols., 2007).
O MIP é uma estratégia de controle múltiplo de infestações que se fundamenta no controle ecológico e nos fatores de mortalidade naturais, no qual procura desenvolver táticas de controle que interfiram minimamente com esses fatores tendo o objetivo de diminuir as chances dos insetos de se adaptarem a alguma prática defensiva em especial (ALVES, 1998).
Desta forma o objetivo no manejo integrado de pragas não é o de eliminar os agentes, mas reduzir sua população de modo a permitir que seus inimigos naturais permaneçam na plantação agindo sobre suas presas favorecendo a volta do equilíbrio natural desfeito pela plantação e pelo uso de defensivos agrícolas.
O monitoramento é o primeiro passo para se praticar o MIP. Sem monitorar a densidade populacional da espécie-alvo no campo não há como se aplicar os princípios do MIP. Assim, é recomendável iniciar o monitoramento mesmo antes de se iniciar o plantio, pois a freqüência e o método de amostragem dependem da fase de desenvolvimento da cultura e do nível de precisão que se pretende conduzir o manejo. Sendo assim, quanto maior a freqüência e tamanho da amostra melhor, entretanto, devem-se considerar também os custos dessas amostragens (FERREIRA, 1993).
Diante disso, segundo VIANA (2007), o Manejo Integrado de Pragas se dá numa maneira de manejar certa cultura para que as plantas possam expressar sua resistência natural as pragas e patógenos, assim devem-se consorciar diversos métodos de controles, levando-se em consideração o custo de produção e o impacto sobre o meio ambiente, e consequentemente diminuir ao máximo a utilização de agrotóxicos.
Dessa forma, requer-se o entendimento do sistema da cultura como um todo e o conhecimento das inter-relações ecológicas entre os insetos agressores, seus inimigos naturais e o ambiente onde a cultura está inserida. Para a aplicação contra a infestação de insetos requer o entendimento do nível de tolerância da cultura, sem refletir em perda econômica substancial. Para tanto, é necessário o acompanhamento e a pesquisa a campo para estimar o grau de abundância e severidade da infestação (ALVES, 1998).
Além disso, segundo ALMEIDA (2001) a utilização de sementes resistentes, pois certas variedades desenvolveram mecanismos de defesa e se tornaram resistentes ou tolerantes, repelem ou se tornam menos preferidas pelas infestações. As vantagens desta tática incluem a facilidade de uso, compatibilidade com outras táticas de controle de pragas, baixo custo e impacto cumulativo sobre a praga com mínimo impacto ambiental negativo; a adoção de práticas agrícolas torna o plantio menos favorável às infestações, como a rotação de culturas, seleção de áreas de plantio, plantio de culturas-armadilhas, ajuste do plantio e colheita em épocas menos favoráveis as infestações; a utilização de barreiras físicas as quais dificultam a locomoção dos insetos para as lavouras; a utilização do biocontrole e em último caso, sob a ótica do MIP, quando as táticas anteriores se mostraram ineficazes para controlar a infestação na lavoura, então o uso de defensivos agrícolas se torna justificável.
No que diz respeito ao controle biológico no MIP, tema desta, segundo ALMEIDA (2001) ele
se mostra com o reconhecimento das pragas-chave da cultura a ser trabalhada, consistindo em identificar qual o organismo que causa mais dano á cultura. Ao conhecer a praga-chave de cada cultura auxilia ao agricultor e/ou pesquisador adotar praticas que incentivem a reprodução de seus principais inimigos naturais, ou que criem condições ambientais desfavoráveis á multiplicação do organismo indesejável.
Ainda assim, o controle biológico faz com que o reconhecimento dos inimigos naturais da cultura beneficie a produção. Diversos insetos, fungos e bactérias podem atuar beneficamente como agentes de controle biológico das principais pragas e, o que é melhor, de forma gratuita na medida em que ocorrem naturalmente no ambiente ALVES (1998). Conhecer as principais espécies e favorecê-las através de diversas práticas (manejo do mato nativo, adubação orgânica, preservação de fragmentos florestais, entre outros), é uma estratégia fundamental para o sucesso do controle de pragas no biocontrole.
A amostragem da população dos organismos prejudiciais também se torna peça fundamental do monitoramento, pois a presença das pragas através da contagem de ovos, largas e organismos adultos, ou da vistoria das plantas, é uma atividade obrigatória para que o produtor e/ ou pesquisador saiba quando agir e o faça de modo a promover o equilíbrio ecológico de todo o sistema de produção (ALMEIDA, 2001).
Outro fator importante que ALMEIDA (2001) cita “é que mesmo promovendo o equilíbrio do sistema, a persistência de determinadas pragas no ambiente é comum e nem sempre basta à adoção apenas de medidas preventivas. Assim, quando existem ameaças destes organismos promoverem um dano econômico às culturas, será necessário ao produtor e/ou pesquisador adotar práticas “curativas”. Tais práticas atuam como “remédios” para as plantas, como o uso das caldas bordalesa ou sulfocálcica, por exemplo.”
VILELA et al LUCIA (1987) relatam que os feromônios foram caracterizados, pela primeira vez, na Alemanha, em 1956. As primeiras técnicas empregando estas substâncias para atrair insetos não têm mais do que 20 anos. Portanto, é algo novo e com possibilidades crescentes de uso, dependendo do esforço em novas pesquisas e adaptações tecnológicas.
Os feromônios são odores/perfumes, que promovem o comportamento de indivíduos da mesma espécie. Portanto, o uso de um dado feromônio não se constitui em fator de desequilíbrio para espécies não-alvo, o que torna o uso destas substâncias ecologicamente desejável. Os feromônios sexuais, que geralmente são produzidos pelas fêmeas para atrair os machos da própria espécie para o acasalamento, são colocados, em pequenas quantidades, em liberadores especiais, que permanecem no campo por várias semanas atraindo insetos (VILELA et al LUCIA, 1987).
Os países que mais empregam feromônios são: Egito, Estados Unidos da América (EUA), França, Israel e Alemanha, em volume ainda pequeno, comparativamente com o emprego de inseticidas convencionais. As grandes empresas do ramo fitossanitário interessaram-se inicialmente por este novo conhecimento, porém, como os feromônios provaram-se extremamente específicos (para cada praga um feromônio diferente), a exploração comercial dos mesmos foi considerada incompatível com a maneira como atuam (VILELA et al LUCIA, 1987).
VIANA (2007) refere-se que esta especificidade de uso é de grande vantagem ecológica, porque, uma vez que a aplicação de um dado feromônio somente irá interferir com a população da praga-alvo, nunca com os demais organismos, maléficos ou benéficos, presentes na área. Assim, a comercialização de produtos à base de feromônios tem sido feita por pequenas empresas, que vendem também serviços (aplicação e acompanhamento de feromônios e agentes de controle biológico), tendo se tornado um campo de oportunidades para novos agrônomos, biólogos e químicos, em várias partes do mundo.
PANIZZI et al PARRA (1991) referem-se a utilização de plantas atrativas ou repelentes a uma das táticas de controle de insetos no sistema de MIP, em que se manipula a fonte nutricional, a planta, com a finalidade de minimizar o impacto de insetos-praga nas culturas.
A técnica é conhecida como cultura armadilha, que consiste na semeadura antecipada ou não, em áreas marginais da lavoura de uma variedade mais precoce e/ou de plantas hospedeiras preferenciais, para atrair ou repelirem o inseto-praga e então impedir o seu dano à cultura a qual está sendo explorada economicamente (FERREIRA, 1993).
Outra tática no emprego do Manejo Integrado de Praga (MIP) citada por PANIZZI et al PARRA (1991) é a alteração da sincronia entre a presença de uma determinada fonte alimentar e a ocorrência dos seus insetos associados. Sendo que a sincronia entre uma determinada cultura e populações de insetos-praga pode ser pertubada de várias maneiras como através da assincronia espacial, sendo obtida por rotações de culturas – ocorrendo assim a manipulação da época do plantio, influenciando a dinâmica populacional dos insetos.
Para diminuir a dependência dos agrotóxicos é necessária a adoção de novas tecnologias no campo, o que exige vontade do agricultor de inovar, com vistas ao futuro e à existência de políticas públicas incentivadoras. Não há nada mais simples do que usar um agrotóxico no curto prazo, mas, por não representarem soluções duradouras, sua aplicação como medida isolada deve ser substituída, em favor do MIP, mesmo que isto signifique, inicialmente, um novo problema, que terá de ser enfrentado pelo agricultor, na busca de resultados seguros a médio e longo prazo (PANIZZI et al PARRA, 1991).
A agricultura do imediatismo cede lugar à agricultura do custo-benefício medido e planejado, onde alimentos contaminados com resíduos tóxicos serão cada vez mais rejeitados pelos consumidores. Ao utilizar o termo Manejo Integrado de Pragas, subentende-se o uso simultâneo de métodos mecânicos, físicos, químicos e biológicos, entretanto, segundo PRIMAVESI (1988) o termo vai muito mais além, tornando o combate integrado uma tecnologia eficiente no controle de pragas agrícolas, pois inclui técnicas que possibilitam um equilíbrio para com o meio ambiente.
O Manejo Integrado de Pragas preconiza epidemias de pragas controladas, maior estabilidade da
produção, qualidade dos produtos agrícolas, menor agressão ao meio ambiente e conservação de áreas agricultáveis. As estratégias de controle que podem ser utilizadas incluem o controle biológico, cultural, físico, químico, legislação fitossanitária, resistência genética e pré-imunização (FERREIRA, 1993).
Sabe-se que cada estratégia tem suas peculiaridades e podem ser utilizadas isoladamente ou em combinação para o controle de uma praga de uma cultura. Deste modo, ALMEIDA (2001), relata que para a escolha é necessário primeiramente identificar o inseto-praga, conhecendo assim suas características e as condições ambientais que favorecem o crescimento. Portanto, é preciso um trabalho contínuo por parte das instituições ligadas a área rural no sentindo de orientar os produtores quanto ao uso de estratégias alternativas de controle tendo como objetivo a implantação do manejo integrado de pragas.
Isto se subentende que ao se manter populações de pragas em níveis subeconômicos, pois o sistema somente funcionará se a já reduzida diversidade dos agroecossistemas puder ser mantida em nível tal que uma teia alimentar de predadores, parasitos, patógenos e competidores possa coexistir com as pragas durante a fase da cultura e, assim, ser possível manter sob controle natural por longo período de tempo (AZEVEDO et al MELLO, 2000). Por sua vez, o fato de controlar os insetos-praga é visto como um crescente conflito entre a ciência e a tecnologia e ainda a qualidade de vida na Terra. Assim sendo, para PASCHOAL (1979), ao planejar as estratégias de um manejo integrado de pragas devem-se aproveitar as lições e os erros cometidos no passado e os conhecimentos adquiridos no presente para obter o aprimoramento dos métodos e dos princípios ecológicos e, toda a tecnologia.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, S.G. Crise Sócioambiental e Conversão Ecológica da Agricultura Brasileira. Rio de Janeiro: AS – PTA, 2001, p. 30 a 35.
ALVES, S. B., Ed. Controle microbiano de insetos. Piracicaba, FEALQ, 1998.
FERREIRA, A. S.; Cols. Sistema de Produção 2. Embrapa Milho e Sorgo. ISSN 1679-012X. Versão eletrônica – 3. Edição set/2007.
FERREIRA, J.T.B. A contribuição fundamental da síntese orgânica no estudo de feromônios. Química Nova, 16, 454, 1993.
GALLO, D. Entomologia Agrícola. Piracicaba, SP: Fealq, 2002, p. 5.
PANIZZI, A. R.; PARRA, J.R.P. Ecologia nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas. Editora Manol LTDA. São Paulo, 1991.
PASCHOAL, A. D. Pragas, Praguicidas & a Crise Ambiental: Problemas e soluções. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1979. p. 67 – 72.
VILELA, E. F.; LUCIA, T. M. C. D. Feromônios de insetos: Biologia, química e emprego no manejo de pragas. Viçosa, UFV, Impresa Universitária, 1987.
VIANA, P.A. Sistemas de Produção Integrada. Embrapa Milho e Sorgo. ISSN 1679-012X Versão Eletrônica – 3 ª edição. Set./2007. Acesso em 11/03/2008.