Quando se analisa os custos de produção de soja, milho e algodão, constata-se que está havendo, ano após ano, um significativo aumento dos mesmos. A elevação é tão expressiva que o produtor identifica “o custo de produção” como uma de suas principais demandas, ou seja, os números estão impactando os produtores brasileiros. As organizações também estão atentas a esse quesito e, por isso, estão trabalhando fortemente o assunto.
Pesquisas recentes apontam que o conhecimento, cada dia mais, tem um maior peso na produtividade das principais espécies cultivadas pelo homem. Tão importante quanto o inseticida, o herbicida, a cultivar e a máquina é o conhecimento para que se possa otimizar esses fatores de produção. Nesse entendimento produtividade não é apenas quantidade produzida por hectare mas, sim, eficiência do processo de produção.
Será que a cultivar está sendo utilizada adequadamente e está sendo dada à ela as condições para que possa exteriorizar toda a sua potencialidade genética? Ou espera-se que a cultivar de forma isolada, resolva todos os problemas. Isto não é possível. Os fertilizantes químicos, os inseticidas, os fungicidas e os herbicidas estão sendo adequadamente utilizados? Há muitos fatores que devem ser considerados para definição da dose correta a ser aplicada e sua não observância poderá requerer uma nova aplicação, com impactos diretos no custo de produção, além de outros fatores.
A falta de rotação de culturas, a baixa disponibilidade de palha, a pouca quantidade de raízes ao longo do perfil do solo, em função do sistema de produção predominante – soja/milho ou soja/algodão – interfere na qualidade física do solo. Esse aspecto tem efeito direto e imediato na qualidade química e biológica do solo e até sobre a incidência de doenças e nematoides. Muitas vezes, para minimizar o problema, aumentamos a quantidade de fertilizantes e, consequentemente, o custo de produção. A resposta das plantas aos fertilizantes químicos depende da qualidade física e biológica do solo. Em Mato Grosso, o preço do adubo (macronutrientes) para soja safra 2019/2020 é 20% maior que o preço pago na safra 2018/2019. Se o solo não tiver capacidade para responder aos efeitos da adubação química, o adubo estará muito caro.
A partir destas “informações”, surge a pergunta, mas o que pode ser feito para melhorar a eficiência das lavouras? A primeira resposta é: devemos trabalhar mais o processo e menos o produto; temos que pensar mais na planta e, talvez menos, no inseto ou no fungo causador de alguma doença. Em resumo, a chave do negócio está no processo, que é mais complexo e talvez até dito como “mais trabalhoso” por alguns.
Qual seria o melhor arranjo produtivo para o solo? Vamos refletir juntos… Primeira opção: soja no verão e milho no outono/inverno ou Segunda opção: soja no verão e milho + braquiária no outono/inverno ou ainda Terceira opção: soja no verão e braquiária + crotalária no outono/inverno? Não temos dúvida, a segunda e a terceira alternativas, para a maioria das situações, são mais adequadas. Ambas, contribuem com: a melhoria o solo, sob o ponto de vista físico, químico e biológico; além de auxiliar no controle de plantas daninhas de difícil controle, como a buva e o capim amargoso, reduzindo o gasto com herbicidas.
O controle de plantas daninhas na soja é função daquilo que é realizado no período de outono/inverno, denominado “controle outonal”. Considerando que o fertilizante químico chega a 40% do custeio da lavoura de soja, com um adequado plano de rotação de culturas, que inclua plantas de cobertura, é possível melhorar significativamente a eficiência da adubação e, por conseguinte, reduzir o custo do fertilizante químico que dado o seu peso no custo da lavoura, contribui para reduzir o custo de produção.
Com fundamento, alicerçado nos exemplos compartilhados nesse artigo, aliado aos conhecimentos disponíveis, é possível reduzir o custo de produção da soja, do milho e do algodão, por exemplo, podendo inclusive aumentar a produtividade, que diga-se: é muito mais do que apenas rendimento por unidade de área.
Em resumo, é preciso olhar mais para o sistema de produção do que para uma determinada cultura; o agricultor deve priorizar os processos e não apenas os produtos. Os efeitos dos produtos, na maioria das vezes são imediatos, mas são pouco duradouros e o contrário se verifica com os processos.
Atualmente existe uma palavra que está muito na moda, “intensificação sustentável”. Pena que esteja muito na moda, porém ainda sendo pouco praticada. Somente com sistemas de produção diversificados e integrados, em que o uso de processos se sobreponha ao uso de produtos, teremos uma agricultura que efetivamente pode ser considerada sustentável.
Considerando que o assunto custo de produção, está em alta em todos os fóruns de discussão, entendemos que estamos num momento muito bom para uma reflexão sobre o assunto. O que está de fato contribuindo para com os “elevados” custos de produção?
Por: Fernando Mendes Lamas (*)
Embrapa Agropecuária Oeste