Não há como falar em sustentabilidade sem ter ética. Não apenas falar de ética, mas agir de acordo com o reconhecimento do outro, da universalização dos princípios da moral pretensa humana, e dos deveres que advêm.
Desde as primeiras navegações, e isso foi muito antes da I Revolução Industrial, os povos do mundo já estavam de certa forma integrados – apenas não se falava em globalização. Desde essa época os povos conquistadores retiraram as riquezas das “terras-sem-dono” e deixaram a miséria nos povos subjugados, apesar de serem os proprietários naturais das riquezas e das terras.
Os mesmos conquistadores, afãs de domínio e conforto imediatos, destruíram as próprias reservas naturais, suas florestas e ecossistemas, e investiram no crescimento industrial que lhes permitissem o domínio além-fronteiras.
Isso se perpetua séculos após a invenção da máquina a vapor. Pior, utilizam-se da ciência para desenvolverem máquinas de guerra – para lhes garantir a manutenção do poder.Continuam a retirar as riquezas – e a deixar a miséria. Basta olharmos para a África, com seus diamantes e petróleo – e ver seus povos morrerem de fome, de doenças e de ignorância.
Apenas a Educação pode pôr fim a tanta calamidade.
Uma educação que tenha como princípio básico a informação consciente de que cada ser humano de nosso planeta merece viver com dignidade e igualdade.
Não se pode falar de sustentabilidade sem condenar os países ricos e desenvolvidos pelo uso do petróleo e do diamante que matam os seres humanos. Não se pode falar de ética sem ver no irmão carente a extensão de si mesmo.
E como se aprende ética? Na escola – a ética pode ser ensinada, aprendida. Porém é uma decisão perigosa para os dominadores, pois a ética é o cume da consciência, tomada de decisão que pode colocar em risco o poder, a dominação e o conforto de uma ínfima camada da população mundial – que continua usurpando o mundo, as pessoas, as ciências – para a sua própria e mesquinha vida.
A natureza, desta forma, é apenas uma parte de um problema muito maior. Da dominação. Do imediatismo. Da carência de princípios morais e éticos nas relações humanas e com a natureza. A quem interessa dar consciência a povos destruídos pela miséria, pela fome, por doenças tratáveis? Quem quer dividir o que pensa que lhes pertence?
Defender a sustentabilidade não é apenas compreender as necessidades de um ambiente natural harmônico. Passa-se antes de mais nada pela natureza humana, pois que é dela a maior responsabilidade das diferenças na utilização dos recursos naturais. Antes de se falar em reservas, em meio ambiente, em globalização, deve-se dar ao outro o direito de ter as mesmas condições de terem voz – para também reagirem, opinarem, afinal, fazerem de fato parte de um ecossistema vivo e integral.
Onde os seres humanos possam ter as mesmas garantias que se pretendem dar a espécies ameaçadas de extinção, aos cuidados com a terra, com o ar e com a água. Falar de educação ambiental é antes de tudo falar primeiro em educação básica de qualidade – quando se pretende dar aos indivíduos os conhecimentos necessários à formação de pessoas com cultura, caráter e consciência. E para isso é necessário dividir o direito a condições dignas e igualitárias de vida.
E essa educação não deve ter fronteiras, assim como o meio ambiente é um só na Terra – e sem querer se estender ao universo – ou universos. Não precisamos de mais filósofos, teólogos, ciências e mitos para tomarmos atitudes decentes.
Basta ver o outro – assim como as partes e o todo da natureza – como partes de um mesmo corpo, de uma mesma pessoa, de um ser que precisa – e quer – viver com dignidade e consciência.
Autora: Dorinha Aguiar (Maria Auxiliadora de Melo Aguiar) – escritora, jornalista e ambientalista