Inflação e consumo

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O Presidente Lula tem falado que combaterá a ameaça de inflação de qualquer jeito. Membros da equipe econômica, no entanto, não percebem o peso que o pão e o feijão nosso de cada dia representam para garantia da cesta básica de alimentos, preocupação comum somente para a maioria dos seus eleitores.

Enquanto um exército de brasileiros desempregados cuidam do saneamento nas ruas, catando lixo, como verdadeiros agentes ambientais, sem ainda ter a atividade regulamentada como profissão e as garantias que lhes seriam de direito, pesquisa recente do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – revela o quadro de desigualdades no país e a concentração de renda se mantêm entre os maiores do mundo. Apenas 10% da população mais rica do Brasil detêm 75,4% de todas as riquezas do país. A concentração é maior em três capitais brasileiras, onde em São Paulo, 73,4% de toda a riqueza estão nas mãos de apenas 10% de toda população do país. Esse número cai, em Salvador, para 67% e, no Rio, para 62,9%. Apesar disso, o Congresso Brasileiro parece não ter interesse em mudar as regras do jogo de uma política tributária, historicamente desfavorecida aos pobres, que pagam 44,5% a mais de impostos do que os ricos Nesse quadro, especialistas sugerem tributação exclusiva para quebrar o erro histórico de favorecimento dos ricos.
O Agronegócio brasileiro tem suas bases históricas na monocultura, em ciclos como cana- de- açúcar, café, borracha e atualmente, soja e, de novo, cana-de-açúcar, para etanol. E o gado nunca saiu de cena, empurrando e derrubando florestas. A ameaça da inflação, que Lula disse que tentará conter de qualquer forma, lembrando inclusive que temos muita terra, ar, água, florestas e gente pra trabalhar, parece estar desconectada dos itens que compõem a engrenagem econômica. Nesse quebra-cabeça econômico dá para explicar por quê o Brasil precisa importar 100 milhões de toneladas de trigo, da vizinha Argentina.?
Lula também disse que para conter a inflação a demanda tem que se equilibrar com a oferta. E isso é regra. No entanto, não se percebe mudanças de comportamento do consumidor, através de campanhas que o estimule ao consumo consciente, com valorização da produção interna. Voltando aos catadores, termômetro do consumo, observamos que eles precisam de carroças cada vez maiores, para comportar o aumento de resíduos catados, todos dos dias, dentro ou fora de lixeiras, tudo misturado.
E qual o modelo de consumo que queremos, que precisamos? Será o de um país que massacra trabalhadores rurais, que tem altos índices de poluição, que não respeita os direitos humanos fundamentais, que cerceia a liberdade de imprensa, que usa a pena de morte como modelo de repressão a quem subverte o autoritarismo político, e que, ainda, coitados, tem sofrido muito com catástrofes naturais como terremotos e enchentes, e, mais ainda, que têm o carvão e o petróleo como matrizes energéticas para produção em larga escala de produtos descartáveis e sem qualidade, como é a China? Será esse um modelo econômico de desenvolvimento para um país como o Brasil?
O presidente Lula também tem capitalizado internacionalmente as riquezas naturais brasileiras como água, floresta, terra, ar e sol. Nossa megabiodiversidade, no entanto, tem sido desperdiçada, ambientalmente, sendo alvo de desejo por quem sabe o valor da pesquisa como instrumento de conhecimento para colocar em prática as necessárias alternativas harmoniosas entre desenvolvimento e preservação. Mas a burocracia tem favorecido a corrupção como entrave para um modelo realmente sustentável.


Liliana Peixinho – Jornalista, ativista ambiental. Fundadora do Movimento Independente AMA – Amigos do Meio Ambiente. www.amigodomeioamvbiente.com.br.
Pós graduada em Mídia e Meio Ambiente

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