Acerca de um assim chamado "florestamento"

0
921

E, então, o pequeno Davi se propôs a enfrentar o poderoso Golias usando uma funda contra um muito bem armado gigante.

Muita celulose já foi gasta nos últimos meses num duelo desigual, que se trava no Rio Grande do Sul. Reflorestar ou não com eucaliptos a metade sul do Estado, ou numa outra leitura mais atenta do mesmo embate: capturar investimentos fabulosos para instalarmos papeleiras ou legar para os filhos de nossos filhos desertos. Mesmo de maneira desigual o assunto tem mostrado posicionamentos a favor e contra plantações extensivas de eucaliptos. Isso há de ajudar na tomada de decisões mais sábias.

Não vou discutir aqui se é florestamento ou reflorestamento. Parece não ser nenhum dos dois. Deve ter havido, há milênios uma ação antrópica que transformou florestas em nosso pampa. Então seria um reflorestamento. Não, pois em florestas deve haver biodiversidade. Em uma monocultura, não há florestas. Mas isso é quase uma irrelevante questão semântica.

Trago algo que aprendi muito recentemente com uma produtora de finas castas de uva. Isso aumenta em mim ser contrário a fazer de parte do Rio Grande um deserto verde. Uma das regiões atingida pela gana dos ‘produtores de celulose’ para os países centrais é aquela que mais recentemente os viticultores encontraram como muito apropriadas a uvas mais nobres, na bacia do Camaquã (Encruzilhada do Sul, Bagé, Caçapava…). Plantações de eucaliptos prejudicam as terras lindeiras usadas para viníferas em duas outras situações (que não aquelas já conhecidas de extrair água e nutrientes do solo). Uma, as imponentes árvores, que podem chegar a mais de 50 metros, produzem extensas regiões de sombra várias vezes maiores que a sua altura; sabemos o quanto a ‘incidência de sol’ é uma exigência necessária para a qualidade da uva. A outra, as partículas odoríficas, emanadas quando da floração do eucalipto ‘contaminam’ a videira quando de sua florescência, transferindo assim para a uva e, desta para o vinho, sabores indesejados. São os mesmos aromas que fazem do mel originado das floradas de eucaliptos tão apreciado.

É preciso recordar que existem substâncias com efeitos alelopáticos, ou seja, compostos orgânicos desprendidos por vegetais que prejudicam outras plantas e as impedem de estabelecer-se na vizinhança. Na maioria dos casos pode se tratar de eteno, de óleos etéreos, de derivados de fenóis ou da cumarina, de alcalóides, de glicosídeos, todos liberados em profusão no ar. São os aromas que apreciamos em um mato de eucalipto. As espécies de Eucalyptus são importantes fontes de emissão de substâncias alelopáticas.

Não é sem razão que a legislação ambiental no mundo inteiro exige uma separação grande – uma área de “amortecimento” –, entre as culturas de Eucalipto e a paisagem nativa ou outros tipos de cultivo. Vale estar atento a mais esse prejuízo que a daninha plantação de eucalipto pode trazer a terras hoje destinadas a cultivares mais nobres.

Autor:Attico Chassot*

 


* Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS – S. Leopoldo – RS.

achassot@uol.com.br

http://achassot.blog.uol.com.br/

[grwebform url=”http://app.getresponse.com/view_webform.js?wid=3381303&u=SK7G” css=”on”/]

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here