Introdução
Sob os impactos de atividades humanas, acrescidas pelo aumento populacional, houve uma degradação cada vez mais rápida e generalizada do ambiente natural. A noção de biodiversidade desenvolveu-se dentro desse contexto, de crise. Porém a questão da diversidade biológica não é uma idéia recente dentro dos meios científicos, não mais que as discussões sobre a expansão demográfica. É justamente a tomada de consciência, num período muito recente, sobre o desaparecimento de espécies e a degradação ambiental, sob o efeito interligado ao desenvolvimento tecnológico cada vez mais forte, que promoveu a preocupação dos cientistas e das associações de conservação da natureza.
Diante de uma situação tão preocupante, torna-se urgente preservar o que ainda resta. A noção de biodiversidade passa a ter um sentido novo, dentro da urgência em se conduzir a uma ação enérgica e rápida.
É preciso mobilizar todos os conhecimentos científicos adquiridos, como também sensibilizar a população e os representantes desta, os políticos, sob os aspectos das conseqüências econômicas, ecológicas, e com certeza sociais, de uma degradação acelerada da biodiversidade. É preciso com responsabilidade e ética, atender aos objetivos da Conferência do Rio, onde foi assinada a Convenção sobre a diversidade biológica:
“Gerenciar melhor os meios e os recursos naturais, numa perspectiva de desenvolvimento durável” ( LÉVÊQUE, 1999).
O que é biodiversidade?
Segundo BLONDEL (1995), o termo biodiversidade “é um cesto vazio, no qual cada um coloca o que quer”. Outros entendem esse conceito de uma forma mais global que se reporta à diversidade da vida, entendido os usos feitos pelas sociedades humanas.
O termo “biodiversidade” foi introduzido nos meados dos anos 80, por naturalistas que se preocupavam com a rápida destruição do ambiente natural e suas espécies e reivindicavam que as sociedades tomassem medidas para proteger esse bem.
Para a Convenção da Conferência do Rio a biodiversidade pode ser definida como “a variabilidade dos organismos vivos de qualquer origem, compreendendo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte. Isso compreende a diversidade no seio das espécies e entre as espécies, bem como aquela dos ecossistemas”. Discutindo esse conceito e simplificando-o, a biodiversidade é constituída pelos seres vivos em seu conjunto, pelo material genético e pelos sistemas ecológicos dos quais fazem parte.
A situação hoje da diversidade biológica
A diversidade biológica vista como um recurso global, deve ser tratada com seriedade, ser registrada, usada e principalmente preservada. Segundo WILSON (1997), o crescimento demográfico está degradando o ambiente principalmente nas regiões tropicais; a ciência vem descobrindo novas utilizações para a diversidade biológica, que podem aliviar não só a degradação ambiental como o sofrimento humano; e por fim a perda de grande parte da biodiversidade se dá pela extinção causada na destruição dos hábitats naturais, de forma mais acentuada nos trópicos. De certa maneira estamos ligados a uma corrida contra o relógio.Precisamos adquirir conhecimento de como embasar uma política de conservação e desenvolvimento que visem garantir a sustentabilidade ambiental para as futuras gerações.
Não é possível se estimar a perda do número de espécies principalmente em regiões tropicais ou mesmo em outros hábitats, por falta total de conhecimento dos números de espécies originalmente presentes. Porém, não há dúvidas de que a extinção está em ritmo muito mais acelerado que antes do século XIX. Podemos afirmar isso, pois a maioria das espécies não é monitorada. È a partir dos princípios da biogeografia que se estimam indiretamente as taxas de extinção. SIMBERLOFF (1984), projetou perdas irrecuperáveis através da destruição de florestas tropicais do Novo Mundo. O autor acima citado afirma que “se os níveis de remoção da floresta tropical continuarem, o palco estará preparado para que dentro de um século haja perda inevitável de 12% de 704 espécies de aves na bacia amazônica, espécies endêmicas, e 15% de 92.000 espécies de plantas nas Américas do Sul e Central.
Por mais tristes que sejam essas perdas regionais, elas estão longe do que seria o pior, visto que as bacias do Orenoco e Amazônica perfazem as maiores extensões de florestas contínuas do mundo. “Hábitats menos extensos são muito mais ameaçados” (WILSON, 1977). Exemplo é a floresta ocidental do Equador que até antes de 1960 não haviam sido quase perturbadas e quando da construção de uma rede de rodovias levou a rápida colonização e à devastação da maior parte da região. Hoje só restam 0,8% km² da Estação biológica de Rio Palenque, que segundo GENTRY (1982), só restam 1.033 espécies de plantas, e talvez 25% delas só ocorram nas costas do Equador. Muitas são conhecidas hoje, a partir de um único indivíduo vivo.
A presente destruição da diversidade assemelha-se as grandes catástrofes dos últimos 65 milhões de anos. Nas extinções em massa do passado, acredita-se que ocorreram por grandes choques de meteoritos, hoje, o grande responsáveis é o homem.
Qual o interesse pela biodiversidade?
São três os motivos que levam o homem atual a se interessar pela biodiversidade, segundo a visão de LÉVÊQUE (1999): motivo econômico, ecológico, ético e patrimonial.
Motivo econômico: ° contribui para o fornecimento de vários produtos alimentares, é matéria prima para as indústrias, medicamentos, materiais de construção e uso doméstico. ° É a base de toda a produção agrícola. ° Oferece perspectivas de valorização no domínio das biotecnologias. ° Vislumbra uma atividade econômica ligada ao turismo ou ligada a atração de paisagens.
Motivo ecológico: ° Mantém os processos de evolução do mundo vivo. ° Tem um papel de regulador da homeostase ambiental. ° contribui para a fertilidade do solo e sua proteção assim como para a regulação do ciclo hidrológico. ° tema capacidade de absorver e decompor poluentes orgânicos e participa da purificação das águas.
Motivos éticos e patrimoniais: °O homem tem o dever moral de não eliminar as outras formas de vida. ° segundo os princípios de igualdade entre gerações, nós devemos transmitir aos nossos filhos a herança que recebemos. ° Os ecossistemas naturais e sua espécies são verdadeiros laboratórios para se compreender os processos de evolução. ° a biodiversidade está carregada de normas de valor; aquilo que é vulnerável, aquilo que é bom para o homem e para a sobrevivência da humanidade.
A quem pertence a biodiversidade?
A biodiversidade segundo VANDANA (2001), sempre foi um recurso local comunitário, “é um recurso de povo”. A autora coloca que um recurso é propriedade comunitária quando existem sistemas sociais que o utilizam segundo princípios de justiça e sustentabilidade. Entendemos assim que envolve a combinação de responsabilidade e direitos entre os usuários, a combinação da conservação e de utilização, um sentido amplo de co-produção com a natureza e de amor entre os membros da comunidade. É a preocupação não com a ética antropocêntrica e sim com a ecoética.
O papel da Educação Ambiental
A educação ambiental tem papel fundamental no processo de se reverter o quadro de degradação da biodiversidade. Primeiro através da informação aos atores sociais, pois eles são os mais interessados e os que vão se beneficiar da reversão do quadro. Segundo implantar uma metodologia que envolva a todos numa grande parceria de dignidade e cidadania. Terceiro mostrar que quando todos estão voltados para um mesmo objetivo, a energia é sempre positiva.
Podemos exemplificar: Devemos sempre deixar uma dúvida na cabeça dos atores para que eles reflitam, então através de encontros com palestras e até mesmo visitas à campo perguntamos: O que pode ser ou acontecer se nenhuma providência for tomada? Aí está o papel dos educadores. Questionar, integrando e interagindo com os representantes da sociedade, por exemplo: não devo retirar sem necessidade, e se retiro devo recolocar? Mostrar que as crianças representam as futuras gerações. O que deixar para elas? Ser inflexível com os impactos da devastação do cotidiano, o papel e a responsabilidade de cada um. Fazer que percebam que sozinhos não somos quase nada, não temos tanta força. Porém se nos juntarmos aos outros faremos a diferença. Mostrar a força da comunidade.
Conclusão
Pode-se concluir que tudo se resume numa questão ética: de que forma pode-se valorizar os mundos naturais nos quais nos desenvolvemos e de que maneira entendemos nosso status como indivíduos. A ciência e a filosofia da natureza contribuíram para dar alívio no que poderia ser o contrário do senso comum essencial à existência humana. A vontade da liberdade pessoal, da expansão eterna é intrínseca do espírito humano. Precisamos de um conhecimento profundo da administração do mundo vivo para se planejar a perpetuidade. O grande alcance da ética da conservação será medida pela distância entre a expansão e a administração da natureza. O senso comum só será alcançado se houver uma transformação das formas mais adequadas à sobrevivência, incluindo a proteção ao espírito humano.
WILSON (1984),escreveu:
Ao sul entende-se o eterno Suriname, o sereno Suriname, um tesouro vivo à espera de verificação. Espero que se mantenha intacto, que pelo menos uma parte de sua história de oito milhões de anos seja salva para a leitura. Pela ética de hoje seu valor parece limitado, bem abaixo das preocupações prementes da vida diária. Porém, sugiro que, à medida que o conhecimento biológico cresça, a ética mudará fundamentalmente para que em todos os lugares, por razões relacionadas à própria fibra do cérebro, a fauna e a flora de um país sejam consideradas uma parte da herança nacional tão importante quanto sua arte, seu idioma e aquela estonteante mistura de conquistas e farsas que sempre definiram nossa espécie (WILSON ,1984).
Os recursos sistematicamente hoje são usurpados de seus guardiões, tornando-se monopólio das multinacionais. Essa tendência faz com que a biodiversidade seja transformada dos domínios locais para as propriedades particulares cercadas.
Autora: Lílian L. M. F. da Gama
Bibliografia
GENTRY, A. H.; Patterns of neotropical plant-species diversity. Evol. Biol. 1982.
LÉVÊQUE, Chistian.; A biodiversidade. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
SIMBERLOFF, D. S.; Mass Extinction and the destruction of móis tropical forests. Zh. Obshch. 1984.
VANDANA, Shilva.; Biopirataria: a pilhagem da natureza e do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
WILSON, E.O. ; Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
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