Autoria: Roberta Celestino Ferreira
A definição de uma política ambiental com certeza há de amparar-se na investigação em curso, uma vez que a busca de alternativas para os problemas ambientais apresenta-se como uma temática emergente.
O procedimento da pesquisa como referencial educativo, como releitura da realidade circundante e como agir conseqüente cria rupturas a partir de sujeitos sociais como autores e construtores de seu momento histórico. Por vezes as soluções propostas ultrapassam a boa vontade e o conhecimento dos sujeitos sociais, pois nem tudo depende da tomada de consciência. Existe, ocasionalmente, uma distância entre informação, percepção, conhecimento e tomada de decisão na prática política. Cabe reconhecer que se multiplicam as abordagens e os prospectos ideológicos a respeito da educação ambiental e entre as quais não existe consenso quanto aos rumos a seguir. A construção da abordagem metodológica visa estabelecer relacionamentos entre o pensamento ambientalista e as novas tendências epistemológicas trazidas pela educação ambiental. No contexto das relações conflituosas aborda-se a vitalidade do diálogo entre sociedade de risco e sustentabilidade, entre educadores e pesquisadores, entre educadores e educandos, que problematizando o cotidiano e as relações sociais, despertam para as questões ambientais contemporâneas.
A sustentabilidade tem-se firmado como um novo paradigma para o desenvolvimento humano, entretanto também esta retórica necessita apresentar as mediações adequadas aos objetivos vislumbrados. Os países signatários dos documentos e declarações resultantes das conferências mundiais ocorridas na década de 90, assumiram o compromisso e o desafio de implementar, em suas políticas públicas, as noções de desenvolvimento sustentável ou de sustentabilidade. Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas. (Nosso Futuro Comum – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Por mais que esta abordagem genérica possa ser criticada como insuficiente, ainda assim guarda contribuições como forma de solidariedade entre gerações, reúne um egoísmo saudável. A crítica fundamental é de que as necessidades sempre se definem a partir de condicionamentos históricos bem específicos e não de uma perspectiva universal. Isto impede de fato que se afirme aqui e agora um limite geral do que seriam as nossas necessidades, uma vez que cada ambiente e sociedade vai delinear de forma diversa as suas demandas.
A idéia de sustentabilidade propugnada aqui é entendida como um senso profundamente ético, de igualdade e justiça social, de preservação da diversidade cultural, de autodeterminação das comunidades e de integridade ecológica. A sustentabilidade nos põe o seguinte desafio: a nossa questão fundamental não é mais viver melhor amanhã, mas viver de modo diferente hoje, aqui e agora e, para que isso aconteça, exige profundas mudanças na forma de pensar, viver, produzir e consumir. O imperativo de ampliar o espectro da educação ambiental muitas vezes tem motivado a tolerância diante das diferenças e das divergências, ou seja, verifica-se uma tendência em admitir modos de pensar, de agir e de sentir o ambiente desconsiderando a diversidade política, a desconformidade estratégica e a disparidade ideológica. A educação ambiental pode se constituir num espaço revigorado da vida escolar e da prática pedagógica, reavivando o debate dentro e fora da escola, permitindo uma maior conexão com a realidade dos educandos, possibilitando uma ação consciente e transformadora das posturas em relação ao mundo e aos semelhantes. De uma maneira geral, o uso adequado de mediações aproxima os estudantes dos conteúdos programáticos, pois os leva a perceber a proximidade da teoria com a realidade, bem como a riqueza de sua mútua fecundação.
Entre as mudanças que desafiam a educação formal, encontra-se a capacidade de inserir as questões ambientais de maneira interdisciplinar no currículo. Com isso, usar a Educação Ambiental como um viés interdisciplinar que ligue as diferentes disciplinas, dentro do processo histórico, às atuais estruturas sobre as quais está assente a sociedade moderna. Isto poderá conduzir a um relacionamento mais concreto entre as escolas, as comunidades locais e o meio ambiente onde estão inseridas. A educação ambiental pretende construir uma postura eco-política, de forma que, a partir da conscientização possa ser expressa uma atuação política que encaminha os interesses em termos de reivindicações coletivas.
Destacar a importância da educação ambiental ocorre num momento em que as relações sociais, a relações entre os seres humanos e com o mundo precisam ser transformadas. Estas novas relações, porque baseadas em nova ética, devem distanciar-se do atual sistema para a criação de um novo momento para um fecundo nexo entre os elementos que compõem o ambiente. A mediação adequada entre meio ambiente, educação e sustentabilidade implica em destacar a diversidade cultural, a participação, o envolvimento subjetivo e a cidadania ativa. Por este caminho, passam a redescoberta da solidariedade entre os homens como agentes sociais e, destes, com referência à sobriedade quanto ao uso dos bens naturais. Daí a necessidade de que os homens e as mulheres vislumbrem e desenhem os pilares de uma nova sociedade, portanto, construindo e reconstruindo sua própria história. Este caminho também transporta uma nova visão do mundo e suas relações com a natureza, vinda das relações entre os que compartilham um novo pensar dissonante com a tradição de domínio sobre a natureza pela ótica do antropocentrismo. A prática pedagógica será mais abrangente se considerar as mais diversas representações sociais, pois pode ser delas o ponto de partida para o trabalho em educação ambiental.
A educação ambiental permite uma objetivação das ações específicas em prol de mudanças e de reivindicações em relação a direitos que impliquem em qualidade de vida, permitindo através da releitura da realidade uma conscientização mais imediata e profunda da interferência dos homens e mulheres no mundo e na história. A educação ambiental transcende a sala de aula como o locus do aprendizado e, necessariamente, aproxima o professor dos estudantes e suas realidades, possibilitando desafios a ambos em relação ao aprendizado contínuo, onde o meio ambiente consolida-se como um parceiro fundamental. A educação, como leitura da palavra, é leitura do mundo e, por sua vez, uma leitura da natureza. Ao mesmo tempo, o relacionamento com a natureza implica num determinado relacionamento entre os indivíduos na sociedade. Por mais que ainda estejamos nos primórdios da reflexão sobre o quando, como, onde e por que da metodologia em educação ambiental tudo nos leva a crer no seu sucesso.
As mediações para implementar a educação ambiental podem caminhar neste sentido, pois que passam a avaliar, não somente a ação antropocêntrica sobre a natureza, mas também a divisão de interesses que permeiam essa ação, estabelecendo uma consciência ambiental que não ande num sentido restrito, mas que compreenda, investigue, pesquise, de forma intensa, nos campos formal e informal da educação, as melhores condições para sua prática de ensino. O trabalho no campo da educação ambiental põe a questão da mudança ideológica e cultural, da prática interdisciplinar, da alteração dos padrões díspares de consumo e desperdício, e da busca de alternativas para o campo da produção.
A noção básica da educação ambiental consiste em forjar cidadãos capazes de compreenderem o mundo e, com suas ações, forjar as mudanças desejadas, engendrando uma formação permanente, alicerçada num processo de ação e reflexão. Uma perspectiva para a educação ambiental com certeza há de contemplar as respectivas mediações para uma crítica da sociedade atual e propondo uma ótica da sustentabilidade.
A autora é Graduada em Bacharelado em Turismo pela Faculdade Piauiense – FAP, pós-graduanda em Projetos Turísticos pela Universidade Gama Filho.