Autora: Patrícia da Costa Kunt
Vivemos em um mundo urbanizado, onde a relação entre homem-natureza é cada vez menor. Com o passar das gerações vemos um maior distanciamento das crianças com a natureza. Desta forma, precisamos agir para mudar esta realidade.
Lembro das histórias contadas por minha bisavó, na qual ela me contava que as distrações na época de sua infância eram muito diferentes das minhas. Minha bisavó brincava de contar histórias de terror à luz de velas, pois não existia luz elétrica naquela época. Ao acordar, ela ajudava seu pai a tirar o leite das vacas e em seguida ia brincar na sombra de uma figueira. Quando se casou foi morar em uma casa enorme no centro da cidade de Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul. A casa possuía muitos quartos, que nas férias eram ocupados pelos seus sete filhos, noras, genros e netos. Durante as refeições todos sentavam à mesa e oravam. Durante a tarde, as crianças brincavam no jardim florido, enquanto os adultos tomavam o tradicional mate. À noite, todos se reuniam novamente para pedir a benção aos mais velhos antes de irem dormir. E assim, os dias passavam. Não havia televisão, nem internet e vídeo-game. As crianças brincavam ao ar livre sem medo da violência e sem grades que as mantivessem presas em suas residências.
Imersas em sua ingenuidade, as crianças daquela época sequer se davam conta das grandes transformações tecnológicas que estavam por vir. Durante a minha infância descobrimos o vídeo-game, era um máximo. Adorávamos brincar com ele à noite quando não podíamos mais ficar na rua, pois eu e minhas amiguinhas gostávamos mesmo é de brincar de boneca na rua. Estendíamos lençóis na calçada e montávamos casas para nossas barbies. Passávamos todo final de semana brincando na rua. Quando nos aproximamos da adolescência as brincadeiras mudaram, passamos a jogar taco, vôlei e brincar de pega-pega. A rua onde moro é próxima ao centro da capital do Rio Grande do Sul, mas era tão pouco movimentada que os jogos dificilmente eram interrompidos pelos carros. Mas as coisas mudaram. Atualmente, ela é asfaltada e há um fluxo intenso de carros, mesmo no final de semana. Não vemos mais crianças brincando na rua.
Hoje em dia, a maioria das crianças da classe média possui um computador ou já manusearam um na escola, ou na casa de um amigo. A tecnologia faz parte de suas vidas em todos os sentidos, desde uma infinidade de canais disponíveis na teve a cabo até os mais avançados programas de vídeo-game. É comum vermos crianças passarem horas na frente do computador conversando através de sites de relacionamento, como Orkut ou Messenger. Cada uma em sua casa, distante e ao mesmo tempo próxima devido às facilidades de comunicação. Desta forma, o contato físico entre as crianças tornou-se mais escasso, muitas vezes limitado ao período em que estão na escola.
E o contato com a natureza? O meio urbano deixou de ter casas grandes e passou a ser dominado por prédios. Os pátios estão cada vez mais reduzidos e cercados por muros. As crianças não desejam mais ter uma casa na árvore para brincar, não colhem os frutos maduros das árvores, não sabem distinguir o canto dos pássaros e tampouco acordam com o som do cacarejar dos galos. Essas culturas foram perdidas com o passar do tempo e se não forem feitos esforços para aproximar a natureza dessas crianças, provavelmente tornaram-se adultos apáticos a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas.
Vemos uma crescente necessidade da tomada da consciência ecológica e um dos meios de se atingir tal ideal é através da educação ambiental. Segundo Leão (1999, p.27) é preciso que a sociedade resgate o pressuposto fundamental da educação ambiental: integração entre as partes, formando um todo, em interação constante homem-ambiente, valorizando as instâncias da razão, do sentimento, da afetividade e do prazer, que somarão energia para uma ação coletiva, demonstrativa de um novo modelo de sociedade.
Bibliografia:
LEÃO, Ana Lúcia Carneiro, SILVA, Lúcia Maria Alves. Fazendo Educação Ambiental, 4ª ed. rev. atual. Recife: CPRH, 1999, 32p.