O termo “ecologia” vem do grego “oikos” que significa nada menos nada mais que “casa” ou lugar onde se vive ou hábitat, e logos, que significa “estudo”. De maneira que ecologia significa o “estudo do lugar onde se vive”. Ele foi absorvido pela maioria das línguas do mundo ocidental: ecology, no inglês; écologie, no francês; ou ecologia, no italiano etc.
Pelo que tudo indica, a palavra “ecologia” foi empregada pela primeira vez pelo zoólogo e naturalista alemão ERNST HAEKEL (1834‑1919), adepto das teorias darwinianas, em 1869, no seu livro Generelle Morphologie des Organismen (Morfologia geral dos organismos), para designar “o estudo das relações de um organismo com seu ambiente inorgânico ou orgânico, em particular, o estudo das relações do tipo positivo ou amistoso e do tipo negativo (inimigos) com as plantas e animais com que convive”. Para ERNST HAEKEL a ecologia deve ser vista como o estudo da economia, da organização doméstica dos organismos animais. Ela inclui, como dito, as relações dos animais com o ambiente orgânico e inorgânico, especialmente todas as relações benéficas e inimigas que o célebre naturalista e fisiologista inglês CHARLES ROBERT DARWIN (1809-1882) mencionava, em sua obra A origem das espécies (1859), como representando as condições de luta pela existência. Lembramos que CHARLES ROBERT DARWIN sustenta existirem ancestrais comuns entre organismos distintos e que o principal agente de modificação, entre diferentes organismos, é a seleção natural sobre a variação individual.
Antes de se empregar pela primeira vez o termo “ecologia”, utilizava-se a palavra “biologia” para designar a área de estudo que abrange características dos grupamentos de espécies, e entre espécies, tanto vegetal, quanto animal.
No entanto, CELSO PIEDEMONTE DE LIMA alerta que a definição de ecologia adotada por ERNEST HAEKEL, aparentemente, exclui do objeto os aspectos culturais e humanos, o que não deve ocorrer, já que os seres humanos são animais, e reconhecer que “somos animais diferentes não implica admitir que sejamos mais perfeitos”.
De qualquer forma, o termo “ecologia” somente foi adotado pelo público em geral em 1895, quando o botânico dinamarquês e professor na Universidade de Copenhage, JOHANNES EUGENIUS BÜLOW WARMING (1841-1924) publicou obra que tratava especificamente sobre a geografia vegetal ecológica. O objetivo de JOHANNES EUGENIUS BÜLOW WARMING nessa obra consistia em buscar uma melhor compreensão das relações mútuas entre os organismos e seus ambientes respectivos dentro de condições normais.
No início do século XX, a ecologia era ainda um “estudo descritivo da natureza”, uma espécie de “história natural”, que se inspirava nos trabalhos dos grandes exploradores e observadores da natureza do século XIX. Logo seguiram estudos mais pormenorizados sobre o meio em que vive determinada espécie e suas relações de simbiose ou de antagonismo com outras espécies e no seu meio físico de autuação. Suas aplicações foram e continuam sendo importantes, sobretudo no que diz respeito às pesquisas sanitárias sobre os transmissores de doenças e à prevenção antiparasitária. Mas cada espécie, mesmo quando estudada juntamente com outras que a influenciam diretamente, não é senão a minúscula parte de um conjunto formado por milhares de espécies vegetais, animais e microbianas que ocupam determinado espaço: uma floresta, uma praia, um lago etc. Em vista disto, em torno de 1925, surgiu a sinecologia, também chamada de “ecologia das comunidades” ou “ecologia nos conjuntos de espécies”, que estuda a integração nas diferentes espécies que ocupam um mesmo ambiente, como estas se relacionam, e de que modo interagem com o meio ambiente.
Em português, o termo ecologia aparece pela primeira vez em PONTES DE MIRANDA, em sua obra Introdução à política científica, cuja primeira edição foi publicada em 1924.
S. KIRK WICKERSHAM menciona que ecologia é a ciência que estuda a dinâmica dos ecossistemas; é a disciplina que estuda os processos, interações e a dinâmica de todos os seres vivos com os aspectos químicos e físicos do meio ambiente e com cada um dos demais, incluindo os aspectos econômicos, sociais, culturais e psicológicos peculiares ao homem; é um estudo interdisciplinar e interativo que deve, por sua própria natureza, sintetizar informação e conhecimento da maioria, senão de todos os demais campos do saber. Todavia, esta definição não corresponde muito bem ao significado que, hoje em dia, se dá ao termo.
Evidentemente, o seu conceito original, tal como ocorre em relação a maior parte dos termos científicos, evoluiu até o presente no sentido de designar apenas uma ciência, parte da biologia, e uma área específica do conhecimento humano que tratam do estudo das relações dos organismos uns com os outros e com todos os demais fatores naturais e sociais que compreendem seu ambiente. Todavia, o conceito atual de ecologia não deve ser confundido com o conceito de “ambiente”. Repetindo, a ecologia deve ser entendida como uma ciência bem marcada no âmbito da biologia, que tem um espaço restrito de atuação no estudo das relações entre seres vivos e o espaço que o cerca, levando em consideração os aspectos físicos, químicos e biológicos. A ecologia não é, pois, uma ciência ambiental, ela é apenas uma ciência que estuda o ambiente. Neste mesmo sentido é que S. KIRK WICKERSHAM sustenta não ser a ecologia a mesma coisa que meio ambiente; ecologia não é o lugar onde se vive; ecologia não é um descontentamento emocional com os aspectos industriais e tecnológicos da sociedade moderna. Portanto, a ciência ambiental tem um campo de atuação muito mais amplo do que a ciência ecológica.
Atualmente os vários autores que procuram definir com exatidão “ecologia” adotam este entendimento. Por exemplo, para o zoólogo e ecólogo norte-americano EUGENE PLEASANTS ODUM (1913-2002), em sentido literal, a ecologia é a ciência ou o estudo dos organismos em “sua casa”, isto é, em seu meio. Segundo ele, define-se como o estudo das relações dos organismos, ou grupos de organismos, com seu meio. Está em maior consonância com a conceituação moderna definir ecologia como estudo da estrutura e da função da natureza, entendendo-se que o homem dela faz parte.
ROGER DAJOZ, por sua vez, ensina que ecologia é a ciência que estuda as condições de existência dos seres vivos e as interações, de qualquer natureza, existentes entre esses seres vivos e seu meio, enquanto o agrônomo canadense, conhecido como pai da ecologia, PIERRE DANSEREAU (1911-2011) entende que ela é a ciência das relações dos seres vivos com o seu meio. Inclusive, segundo este último autor, trata-se de termo usado freqüente e erradamente para designar o meio ou o ambiente.
No WEBSTER’S THIRD NEW INTERNATIONAL DICTIONARY podemos encontrar a definição segundo a qual ecologia é o ramo da ciência concernente à inter-relação dos organismos com seus ambientes, manifestada em especial por: ciclos e ritmos naturais; desenvolvimento e estrutura das comunidades; distribuição geográfica; interações dos diferentes tipos de organismos; alterações de população. Em outras palavras é o modelo ou a totalidade das relações entre os organismos e seu ambiente. AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA reafirma em seu famoso dicionário que ela é parte da biologia que estuda relações entre os seres vivos e o meio ou ambiente em que vivem, bem como suas recíprocas influências. O UNITED STATES DEPARTMENT OF TRANSPORTATION – USDT adota definição de ecologia segundo a qual se trata de disciplina biológica que lida com o estudo das inter-relações dinâmicas dos componentes bióticos e abióticos do meio ambiente.
Finalmente, segundo SUELI AMÁLIA DE ANDRADE, o estudo do “ambiente da casa” (ecologia) inclui todos os organismos contidos nela e todos os processos funcionais que a tornam habitável. A ecologia, para ela, trata, portanto, do estudo das interações entre os organismos que vivem em um ambiente em constante mudança, conectadas no tempo (evolução) e no espaço (padrões de distribuição).
Para bem compreendermos o que significa ecologia, é importante sabermos que o conteúdo celular do ser vivo, formado principalmente de citoplasma e núcleo, essencial a qualquer ser vivo, é extremamente dinâmico e exige um ininterrupto intercâmbio de matéria e energia com o mundo exterior que circunda todo e qualquer ser vivo, por mais protegido que ele esteja e por mais inóspito que seja o ambiente em que se encontre. Assim é que todo ser vivo:
a) absorve e incorpora energia do meio ambiente;
b) absorve e incorpora diferentes materiais do meio ambiente; e
c) elimina produtos residuais.
Por outro lado, o meio ambiente deve:
a) proporcionar ao ser vivo um mínimo de requisitos indispensáveis à vida; e
b) não conter nenhuma ação desfavorável à subsistência da mesma vida.
Dessa forma, existem localidades extremamente secas em que há insuficiência de água; existem lugares em que há insuficiência de oxigênio; existem regiões extremamente rochosas etc. Em tais localidades os animais e as plantas não podem satisfazer adequadamente suas necessidades vitais. Assim, pois, a ecologia trata especificamente da correlação existente entre o ser vivo e o meio ambiente.
Na atualidade, a ecologia se divide em vários campos de estudo, como por exemplo, a ecologia humana (que se ocupa estritamente com a correlação existente entre o homem e o seu meio ambiente). Ainda quanto aos campos da ecologia, é importante mencionar que tanto os biólogos como os ecólogos demoraram bastante tempo para descobrir que os princípios da ecologia são comuns aos vegetais e animais, ou seja, um amplo conhecimento dos animais implica necessariamente a consideração dos vegetais que formam parte do ambiente. Da mesma forma, os estudos da ecologia serão forçosamente incompletos, se não se atender às influências exercidas pelos animais.
Assim, tendo essa idéia por base, podemos dividir ainda a ecologia em:
a) ecologia do indivíduo;
b) ecologia da população.
A ecologia do indivíduo, por sua vez, se subdivide em:
a) ecologia do hábitat – quando o ecólogo estuda os habitats e seus efeitos;
b) auto-ecologia – quando o ecólogo estuda as necessidades e as reações de um determinado ser vivo;
c) ecologia de restauração – consiste no emprego de técnicas para a recuperação do hábitat original, restaurando os processos e preservando a habilidade dos organismos vivos utilizados como instrumentos da conservação.
Já a ecologia da população estuda relações entre grupos de organismos e se subdivide em:
a) ecologia da comunidade ou sinecologia – quando o ecólogo estuda as relações entre vegetais e animais que formam uma comunidade biótica, ou seja, de componentes vivos;
b) ecologia humana – quando o sociólogo ou o economista estuda as relações do homem com seu ambiente; ou seja, para a SECRETARIA DE ASENTAMIENTOS HUMANOS Y OBRAS PÚBLICAS DO MÉXICO – SAHOP, é o estudo científico das relações biológicas, culturais e econômicas entre o homem e o meio ambiente urbano, que se estabelecem em função das características particulares dos mesmos e das transformações que o homem exerce por meio da urbanização; e
c) ecossistema ou sistema ecológico – que leva o ecólogo a considerar as condições físicas de uma área, tanto em relação com a comunidade como em relação com o indivíduo.
Diante destas explicações, podemos dizer que os organismos vivos e seu ambiente formam um sistema recíproco. Isto implica em se admitir que o objeto da ecologia é descobrir e relacionar os princípios que regulam a atividade da comunidade e suas partes integrantes. Em outras palavras, segundo AURÉLIO BOLSANELLO, hoje, à ecologia cumpre assinalar as interdependências funcionais entre os seres vivos e o que os rodeiam. Ilustra muito bem o objetivo da ecologia a história dos criadores de ovelhas que começaram a atacar e matar os grandes gaviões da região em que estavam estabelecidos porque, de vez em quando, estas aves de rapina agarravam um cordeiro pequeno. Em conseqüência da matança dos grandes gaviões, a redondeza estava infestada de ratos, coelhos e lebres que passaram a devorar a vegetação, impiedosamente. Reagindo à devastação, os criadores de ovelhas passaram a matar os roedores que habitavam a região. Com isto, os gaviões foram deixados, momentaneamente, em paz, porém, em virtude da escassez de ratos, coelhos e lebres, foram forçados a atacar pequenos cordeiros para conseguirem se alimentar adequadamente.
O estudo da ecologia implica necessariamente em se analisar diferentes fatores ambientais e analisar diferentes atividades dos organismos existentes no ambiente. Após isto, fundamental é descobrir as relações entre os fatores ambientais e as atividades dos organismos existentes no ambiente para se estabelecer os princípios que regem o ecossistema. Todavia, alguns princípios básicos merecem destaques no estudo da ecologia:
a) princípio dos fatores limitantes – todo ser animal ou vegetal tende a crescer, reproduzir-se e expandir-se; porém, há sempre fatores que impedem que tal aconteça: são os fatores limitantes;
b) princípio dos fatores inalteráveis – há particularidades ambientais que são praticamente inalteráveis pela ação dos organismos; é o caso da salinidade marinha que nenhum animal ou vegetal consegue mudar;
c) princípio dos fatores alteráveis – são particularidades ambientais que podem ser modificadas; é o caso de muitos peixes num pequeno aquário: em tal hipótese, o teor de oxigênio na água baixa muito mais rapidamente;
d) princípio da interdependência dos seres – existe sempre uma interdependência de todas as formas de vida, orgânicas e inorgânicas;
e) princípio da complexidade e diversidade dos ecossistemas – a estabilidade dos ecossistemas é garantida pela sua complexidade e diversidade; e
f) princípio do esgotamento dos recursos biofísicos – o caráter esgotável dos recursos biofísicos constitui fator que limita a intensidade e a escala da exploração.
Há que se destacar, ainda, que os princípios ecológicos acima enumerados não se confundem com os princípios próprios do direito do meio ambiente e dos recursos naturais ou, simplesmente, direito ambiental, já que os primeiros princípios norteiam apenas as relações dos seres vivos entre si, enquanto os segundos consideram o homem como um ser social, somente atingindo a plenitude de seu desenvolvimento no contato com os seus semelhantes, passando a abranger aspectos artificiais, culturais e do trabalho.
Fonte: MARTINS DA SILVA, Américo Luís. Direito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais. Vol. 1: Impacto Ambiental .PNMA . SISNAMA .Licenciamento Ambiental . Responsabilidade Ambiental