Um olhar sobre as práticas de Educação Ambiental e as perspectivas para o desenvolvimento sustentável e a interdisciplinaridade em uma Escola Rural em Catalão-(Go).
Resumo:
Neste trabalho me proponho, de uma forma despretensiosa, a apresentar uma abordagem geral do conhecimento apreendido durante o curso de Educação Ambiental e Ética e apresentar um relato de observações feitas recentemente em uma escola de uma comunidade rural, na qual desenvolvemos um projeto de extensão que, entre outras atividades realizadas na comunidade, envolve práticas de Educação Ambiental. Além disso, fazemos referência ao papel da Universidade para a formação de professores críticos e reflexivos, capazes de trabalhar interdisciplinarmente nas escolas, tendo como eixo articulador as questões ambientais e a realidade local, de forma a construir novos valores em seus alunos, tornando-os conscientes e capazes de intervir sobre o ambiente e transformar a realidade do planeta.
Introdução:
Vivemos em uma sociedade que, em pleno século XXI ainda se vê ameaçada por problemas sociais e ambientais que foram amplamente debatidos, especialmente a partir da segunda metade do século XX, pelos movimentos sociais e em inúmeras conferências nacionais e internacionais que avaliaram a insustentabilidade de um modelo de desenvolvimento regido pelas leis do mercado, pelo crescimento econômico, e que trouxe implicações muito sérias para a humanidade, sejam nos aspectos sociais, culturais, políticos e ambientais. Portanto, o que verifica-se atualmente é que a consciência da crise socioambiental conseguida nos últimos 30 anos, não se traduziu em ações e políticas que fossem realmente efetivas para resolver o problema.
Dessa forma, a sociedade continua em crise: crise ambiental para alguns, social para outros, de paradigmas, civilizatória ou ética para outros, mas que, seja qual o adjetivo correto atingiu a dimensão global ou planetária, exigindo que a sociedade repense suas atitudes. Assistimos a dominação e o esgotamento dos recursos naturais, o degelo das geleiras, inundações, desertificação, mudanças climáticas, mas também à mercantilização das relações sociais, a alienação das forças de trabalho, o aumento das desigualdades e injustiça sociais…e a humanidade continua construindo sua história, sua cultura, transformando o ambiente, totalmente dominada pelo pensamento racionalista que tem orientado o conhecimento cientifico e o modelo de desenvolvimento vigente, não permitindo a compreensão da gravidade e da complexidade dos problemas atuais.
E assim, para a maior parte da sociedade, a crise do planeta continua sendo o risco de, em um dia muito distante, acontecer, por exemplo, de a água potável ser racionalizada ou até acabar, mas sem se dar conta das inúmeras relações existentes, seja em relação às causas seja em relação às conseqüências de um desastre como esse. E há ainda aqueles que continuam a negar as evidências de uma catástrofe eminente.
Essa situação reflete a falta de responsabilidade social da humanidade sobre a qualidade presente e futura do ambiente, enfim sobre o futuro do planeta e das gerações futuras. Ma reflete também a urgência de se encontrar uma saída dessa crise, de se consolidar um novo modelo de desenvolvimento que seja sustentável e da construção de valores éticos através da educação ambiental.
As perspectivas da educação e do desenvolvimento sustentável frente à crise ambiental
Historicamente o conhecimento foi construído em função dos valores dos donos do capital, determinando a racionalidade da ciência e da tecnologia, as quais se transformaram em força produtiva importante à medida que servia apenas à eficiência e a produtividade, princípios que orientaram a construção da sociedade moderna.
É no contexto de fragmentação dos saberes, do conhecimento descontextualizado que não permite uma visão da integração dos fatores sociais, econômicos, culturais e políticos que envolvem a questão ambiental, da falta de valores éticos como a cooperação, a responsabilidade sobre a qualidade das relações humanas e do ambiente que devemos deixar para as gerações futuras, que a ciência tem legitimado o modelo de desenvolvimento vigente.
Dessa forma, verifica-se que, frente à crise que vivenciamos torna-se evidente que o paradigma que orienta a produção do conhecimento científico não tem dado conta de responder às questões emergentes. Torna-se necessário, portanto, um novo modelo de desenvolvimento como alternativa a ordem capitalista. Nesse sentido, concordamos com Diaz (2002, p.44) ao dizer que:
A Educação é a chave, em qualquer caso, para renovar os valores e a percepção do problema, desenvolvendo uma consciência e um compromisso que possibilitem a mudança, desde as pequenas atitudes individuais e, desde a participação e o envolvimento com a resolução dos problemas.
Portanto, um novo paradigma deve ressignificar a ciência, promover a construção de novos valores, os quais possam conduzir a uma nova perspectiva de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável, cujo conceito surge como alternativa de enfrentamento da crise sócio ambiental, tendo em vista que a considera em sua totalidade e complexidade. Propõe a reconstrução de valores, de responsabilidades éticas que promovam a justiça social, a democracia, a cidadania, a preservação da biodiversidade, diminuição da pobreza, enfim, que promova condições que garantam a humanidade viver com dignidade e assegure condições de sobrevivência as gerações futuras.
Nesse sentido, a Educação Ambiental se configura como um caminho possível a ser percorrido em busca de uma sociedade sustentável, pois, ao ser compreendida pelo viés da complexidade ambiental, possibilita práticas educativas interdisciplinares, transdisciplinares, que levam a produção de conhecimentos articulados e a compreensão da interdependência das relações do homem com a natureza, pois como cita Morin(1999, p.42) “um conhecimento só é pertinente na medida em que se situe num contexto”.
No âmbito do ensino formal, a Educação Ambiental deve por lei, aparecer diluída nos currículos escolares (os quais ainda mantém a organização em disciplinas específicas) através dos Temas Transversais (Meio ambiente, ética, sexualidade, saúde) definidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCNs, devendo ser trabalhados em uma abordagem interdisciplinar, a qual exige um preparo dos professores sobre os PCNs e sobre metodologias de trabalho interdisciplinar, seja em sua formação inicial como continuada.
Diante disso, o que temos constatado seja na literatura especializada e através de nossas observações em projetos de Educação Ambiental que desenvolvemos nas escolas, e em cursos de formação continuada oferecidos aos professores da rede pública de ensino do nosso município, é que em geral há um desconhecimento do que seja Educação Ambiental, prevalecendo os conceitos preservacionista/naturalistas que a restringe ao ensino de Ciências e Geografia. È visível também a ausência de orientação para o trabalho a ser realizado com os temas transversais, dificultando a organização de um projeto coletivo que consiga sensibilizar os alunos e conscientizá-los de seu papel como cidadão no mundo. Esse despreparo e a rigidez dos programas a serem rigorosamente cumpridos, acabam por criar uma barreira, uma resistência de grande parte dos professores em se envolverem na construção de projetos interdisciplinares propostos à escola, com vistas a uma abordagem mais complexas dos problemas que ameaçam o futuro do planeta. Isso faz com que se perpetuem as práticas educativas nas disciplinas específicas que reproduzem o conhecimento hegemônico, fragmentado, descontextualizado, à margem do cotidiano dos alunos. Enfim, não gera um conhecimento que possibilite a formação integral dos alunos, conhecedores e transformadores de sua realidade, pois não consegue efetivar mudanças de comportamentos na comunidade escolar.
Por outro lado, temos vivenciado nas atividades de extensão que desenvolvemos nessa escola com apoio de uma parte dos professores, da direção e da coordenação pedagógica, uma receptividade e um envolvimento contagiante dos alunos ao lidar com questões ambientais que fazem parte do dia a dia deles. Essa experiência do envolvimento e das respostas dos alunos nas disciplinas em geral, tem sido fundamental para que outros professores comecem a mostrar um interesse maior e, esperamos venham a participar na construção coletiva de um conhecimento que realmente seja significativo para aquela comunidade.
Estas experiências tem sido importantes para nos levar a refletir sobre o papel da Universidade na formação desses professores e a urgência de estabelecermos ações interdisciplinares no campo da Educação Ambiental, seja no ensino, na pesquisa e na extensão, tendo em vista que, como afirma Oliveira (2000, p.101) é preciso “repensar o papel do professor enquanto transmissor dos conhecimentos definidos e abstratos para uma nova ação reflexiva e criativa, de um saber mais dinâmico e interativo”. Ou ainda, como afirma Souza (2000, p.25) “a Educação Ambiental teria de ser a síntese criativa de uma abordagem nova de caráter transdisciplinar, sustentada pelas informações e saberes acumulados, dispersos pelas diversas especialidades”.
Entretanto, nos deparamos em limitações que começam com a organização por cursos ou departamentos, os quais se dividem em inúmeras disciplinas, ou seja, uma organização curricular no ensino superior que dificulta o trabalho interdisciplinar e leva a superespecialização do conhecimento, o qual que será a base para a formação dos professores que atuarão nas nossas escolas. Como esperarmos dos professores, nossos ex-alunos, praticas interdisciplinares?
Assim o ensino superior apresenta-se com essa grande dificuldade, mas continua sendo nosso desafio. No que se refere às atividades, cursos e projetos de extensão, estes tem avançado no sentido de que, diferentes áreas do conhecimento tem despertado para a construção de projetos coletivos que ao serem levados as comunidades, permitem uma discussão mais ampla das questões tratadas. E o meio ambiente tem se destacado como eixo articulador em vários desses projetos e cursos de formação continuada oferecidos aos professores.
Concluindo, percebo que a Educação Ambiental embora se depare com as incertezas produzidas por um longo processo histórico de construção cultural e científica, se apresenta como um instrumento muito importante para a consolidação de um estilo de desenvolvimento que seja realmente sustentável, democrático, com igualdade de oportunidades, respeito à diversidade biológica e cultural.
Autora: Neila Maria Mendes
Referências Bibliográficas
BRASIL. Parâmetros curriculares Nacionais. Brasília. 1998.
DIAZ, P.A. Educação Ambiental como projeto. 2ª Edição. Porto Alegre: ARTMED, 2002.
MORIN, E. Complexidade e transdisciplinaridade: a reforma da Universidade e do Ensino Findamental. Natal: EDURN, 1999.