Projeto Aprendendo com a Árvore como um Processo de Educação Ambiental

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1962

 

Introdução

Acredita-se que para uma formação efetiva de consciência ambiental, é necessário atingir o indivíduo através de informação e formação de responsabilidade, deste, para com o meio.Buscando isso, foram elaborados subsídios técnicos pela Comissão Interministerial para a preparação da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, versão julho/91, os quais apresentam as bases conceituais da Educação Ambiental.

O duplo papel da Educação Ambiental, isto é, a transmissão de conhecimento científico e, ao mesmo tempo, proporcionar qualidades morais, acabou por criar duas correntes de atuação nos grupos de execução de programas em Educação Ambiental. São elas as correntes naturalística e sócio-ambiental.

A corrente naturalística dá mais ênfase no desenvolvimento de seus trabalhos, à transmissão de conhecimento técnico-científicos, objetivando munir o público-alvo com bases sólidas de informação para que, posteriormente, cada indivíduo possa tomar a decisão de como se relacionar com o meio ambiente e de como exigir que órgãos governamentais dirijam as atividades da sociedade no seu relacionamento como o meio. Esta corrente tem se destacado em países europeus e nos Estados Unidos da América (EUA).

Já a corrente sócio-ambiental centra seus esforços na apresentação ao público-alvo dos problemas ambientais e busca atrair os indivíduos para a discussão e tomada de decisões, fazendo um repensar da realidade local. O enfoque maior é a busca da cidadania acoplada à convivência harmônica com o meio ambiente. Esta corrente vem sendo exercida cm maior força aos educadores do Terceiro Mundo.

Este trabalho está embasado na corrente naturalística, quando se utiliza o material didático do PACA (Projeto Aprendendo com a Árvore).

O PACA é a adaptação brasileira do PLT (Project Learning Tree), que é um projeto de educação ambiental, que utiliza a arvore e a floresta como meio, e é destinado a alunos do Ensino fundamental e Médio, desenvolvido há mais de vinte anos nos EUA pelo Western Environmental Education Council e pelo American Forest Council. Desde essa época, vem sendo aplicado em escolas norte-americanas e hoje já é utilizado com sucesso nos cinqüenta estados norte-americanos. 

Material e Métodos

A. Escolha da área e do público-alvo

O Centro Universitário de Barra Mansa (UBM) está situado na Cidade de Barra Mansa, no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul, no Estado do Rio de Janeiro. Possui um Horto que começou a ser reflorestado durante a década de 70 com diversas espécies da Mata Atlântica. Existem, ainda, áreas de pasto (gramínea), o que o torna propício às atividades a que se propõe esta pesquisa. Possui ainda, um Colégio de Aplicação – SABEC.

Conversando com a diretora da SABEC, optou-se pela quinta série, para o trabalho em educação ambiental, por se tratar de uma faixa etária de fácil manejo e visando o conteúdo programático daquela série na disciplina de Ciências (Cruz, 1996; Barros, 1996).

B. Caracterização sócio econômica do público-alvo

Esta realizada através de um questionário que foi respondido pelas crianças no primeiro dia de trabalho. O objetivo de tal ação foi obter uma visão da utilização e conhecimento da área pelas crianças e das condições sócio/econômicas da família.

C. Escolha das atividades

Foram escolhidos dois tipos de atividades: o primeiro, que pudesse ser desenvolvido no campo e o segundo a ser desenvolvido dentro da sala de aula, para aqueles dias em que as condições meteorológicas não permitissem trabalho externo. Outro critério para a seleção foi a presença da interdisciplinaridade (Fazenda, 1993) para os temas, de modo a que todas atividades integrassem uma visão holística de todos os fatores envolvidos na existência e manutenção dessa área, associando-as ainda com o conteúdo programático da 5a série do 1o grau (Cruz, 1996; Barros, 1996).

Com base neste planejamento foram escolhidas as seguintes atividades:
1) Com o intuito de alertar a turma para os possíveis perigos advindos da presença de animais peçonhentos no horto, foi ministrada pelos Biólogos Pesquisadores do Museu de Ciências da UBM uma palestra sobre tais animais, em especial sobre as “aranhas” do gênero Phoneutra conhecidas popularmente como “armadeiras”

Tema 1; 2) “Revezamento na Caça às Folhas” e “Pinturas de Folhas”. Atividades 6 e 9 adaptadas do PACA I, Páginas 10, 14 e 15. 3) “Construção de uma Biruta”; 4)“Construção de um Pluviômetro”; 5) “Ganhando Poder”, “O que tem no Solo” e “Areia, Silte e Argila”. Atividades 30, 54 e 78, adaptadas do PACA I, páginas 48, 89 e 90, 136 e 137, respectivamente; 6) “Condicionadores de Ar na Natureza”. Atividade 7, adaptada do PACA II, página 17; 7) “Pequenos Animais no Solo” e “As Árvores como Habitat”. Atividades 63 e 67, adaptadas do PACA I, páginas 106, 107 e 114 à 116, respectivamente; 8) Adote uma Árvore”. Atividade 1, adaptada do PACA I, páginas 03 a 06; 9) “As Plantas e o pH”. Atividade 40, adaptada do PACA II, páginas 87 e 88; 10) “Plantas Medicinais”; 11) “Medindo o pH da Chuva”.

As atividades de campo (que necessitavam da área verde), foram desenvolvidas em duas áreas contíguas de mesmo solo, porém com estágios sucessionais vegetais diferenciados (uma com mata secundária em desenvolvimento e outra com pasto), de modo a que cada grupo obtivesse dados com as atividades nos meios bióticos e abiótico, e eles próprios os comparecessem ao final dos trabalhos.
O grupo “par” trabalhou na área de mata secundária e o grupo “ímpar” na área de pasto. Cada grupo desenvolveu a mesma atividade ao mesmo tempo.

Uma monitora, aluna do 1o ano básico de Ciências Biológicas do UBM, acompanhou as atividades do grupo “ímpar” e a autora acompanhou as atividades do grupo “par”. A monitora foi previamente treinada para cada atividade desenvolvida.

Cada atividade era previamente explicada aos alunos em sala de aula, antes de ser executada, e o material necessário a cada atividade era preparado e distribuído com antecedência.

D. Culminância dentro da turma

Foi planejada uma culminância dentro da turma para ocorrer ao fim do desenvolvimento de todas as atividades. Nela os alunos de cada um dos grupos (“par” e “impar”) apresentaram ao outro grupo os dados bióticos e abióticos coletados durante as atividades, de modo a caracterizar as duas áreas de estudo (“mata secundária” e “pasto”). A constatação de diferenças e similaridades entre os dados das duas áreas seriam utilizados como desencadeadoras de um processo de discussão sobre quais agentes eram responsáveis por essas diferenças (ambientais e/ou antropogênicos) e os alunos seriam estimulados a propor soluções aos problemas de degradação ambiental encontrados.

E. Culminância dentro da escola

A turma 500 foi incentivada a partilhar seus dados e a experiência vivenciada com as atividades com os alunos da turma 501. Isto se deu por meio de uma apresentação oral. Esta apresentação teve por objetivo compartilhar a experiência adquirida como forma de incentivar a própria escola a adotar o trabalho de educação ambiental em seu currículo.

F. Avaliação e Análise

Foi utilizado o sistema de pré e pós-teste de conhecimento sobre os temas abrangidos pelas atividades, a fim de avaliar a eficácia destas na obtenção de conhecimento pelas crianças da turma 500. O pré-teste é igual ao pós-teste, sendo aplicado antes de qualquer atividade com a turma, e o pós-teste foi aplicado no final dos trabalhos. 

Os dados foram coletados através da aplicação de testes na forma de pré e pós-teste e de questionários. O pré-teste possui vinte questões, as mesmas do pós-teste, e cada questão possui duas opções: certo – errado. Os pré e pós-testes de cada aluno foram corrigidos e foi atribuído o número de respostas certas e erradas, e depois comparadas, realizando-se, assim, análises através do teste estatístico não-paramétrico de Mc Nemar (Siegel, 1975; Campos, 1983). A escolha da prova de significância de Mc Nemar para a análise desses dados se deve ao fato desta ser particularmente aplicável aos casos onde cada elemento é tomado como seu próprio controle nos planejamentos “antes e depois” e quando a mensuração se faz ao nível de uma escala nominal. As análises estatísticas, foram feitas tomando-se por base cada aluno (comparando-se o número de respostas certas e erradas de cada aluno) e cada questão (comparando-se o número de respostas certas e erradas totais da turma em cada questão), separadamente. Para a apresentação dos dados relativos aos questionários, utilizou-se a construção de gráficos de barra e de setores (Vieira, 1991). Para a construção desses gráficos, foram computada cada uma das respostas para cada pergunta. Foram avaliadas, ainda, as respostas “certo” do pré e do pós-teste, de cada aluno, através de medidas de posição (Média – ) e de medidas de dispersão: Amplitude – A, Variância – S2, Desvio Padrão – S e Coeficiente de Variação – CV (Vieira, 1991) visando demonstrar de forma resumida os dados coletados. O mesmo foi feito para cada questão respondida pelos alunos da turma.

A identificação dos alunos para fins desta dissertação foi feita com uma numeração atribuída aleatoriamente, de modo que os alunos não possam ser identificados por pessoas estranhas à pesquisa.

Resultados e Discussão

A análise estatística dos dados obtida com a aplicação do pré e do pós-teste com os alunos da Turma 500 do SABEC através do teste não-paramétrico de Mc Nemar, demonstra que houve ganho de conhecimento com a aplicação do Instrumento de Educação Ambiental.

As atividades do PACA possuem objetivos claros tanto para o professor quanto para o aluno. Os procedimentos são muito bem explicado e o nível de complexidade das atividades são bem distribuídos.

Os aspectos lúdicos e participativos das atividades de Educação Ambiental foram capazes de transformar a atitude de repulsa a um trabalho novo por parte de alguns alunos em entusiasmo e cooperação, com ganho de conhecimento ao fim dos trabalhos.
 

Autora: Márcia de Fátima Vieira


 

Referências

CRUZ, D. Ciências e Educação Ambiental. 19. ed. São Paulo: Ática, 1995.

FAZENDA, Ivani C. A. et al. Práticas Interdisciplinares na Escola. São Paulo: Cortez, 1991.

SIEGEL. S. Estatística não-paramétrica Para as Ciências do Comportamento. Trad. Alfred Alves de Farias. Rio de Janeiro: Mc GRAW-HILL, 1975.

SIMÃO, S. M. e ANJOS, l. H. C. Projeto Aprendendo com a Árvore – PACA, Guia de atividades (Project Learning Tree/PLT). 2. ed. Rio de Janeiro: UFRRJ, American Forest Foundation, Xerox do Brasil e Companheiros das Américas, 1995. V. I e II.

VIEIRA, S. Introdução à Bioestatística. Rio de Janeiro: Campus, 1991. 

 

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