Rotas Agroecológicas com pequenos produtores do sudeste goiano

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O objetivo das Rotas Agroecológicas é demonstrar os corredores agroecológicos como estratégia para a produção de alimentos e sementes

rotas agroecológicas

Pequenos produtores, professores e estudantes da Universidade de Brasília e dos Institutos Federal Goiano e de Brasília, além de representantes da Associação Camponesa Nacional (ACAN) e do Movimento Camponês Popular (MCP) participaram, em 27 de fevereiro, da segunda edição do circuito das Rotas Agroecológicas. O grupo, formado por 100 pessoas, conheceu o corredor agroecológico e a célula de seleção para o melhoramento participativo de milho e feijão na Fazenda Corinalves, no distrito de Santo Antônio do Rio Verde, em Catalão (GO), que é uma propriedade em transição para as práticas agroecológicas.

O objetivo das Rotas Agroecológicas é demonstrar os corredores agroecológicos como estratégia para a produção de alimentos e sementes voltadas ao manejo da agrobiodiversidade e sustentabilidade de pequenas propriedades familiares. No dia 28 de fevereiro, a visita técnica reuniu 40 pessoas na comunidade Barrinha, em Silvânia (GO), para conhecer o corredor agroecológico implantado na propriedade da família Carvalho Lima, que já é manejada agroecologicamente, sem uso de fertilizantes de alta solubilidade e de defensivos químicos.

As Rotas Agroecológicas são organizadas pela Embrapa Cerrados (DF), em parceria com a Associação Camponesa Nacional (ACAN), e integram o projeto “Corredores agroecológicos como estratégias para produção de alimentos e sementes, focados no manejo da agrobiodiversidade e sustentabilidade de pequenas propriedades familiares – Agrobio II”, liderado pela pesquisadora Cynthia Torres, da Embrapa Cerrados, que tem, entre seus objetivos, a validação do sistema a partir de estudos sobre o seu funcionamento.

Os pesquisadores Cintia Niva, Wellington Pereira (Embrapa Cerrados) e Agostinho Didonet (Embrapa Arroz e Feijão), membros do projeto, também participaram da Rota Agroecológica. O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Cerrados, Marcelo Ayres, o chefe de Transferência de Tecnologia, Sebastião Pedro, e o pesquisador Roberto Guimarães acompanharam a primeira visita, em Catalão.

Corredores agroecológicos – corredores são faixas de cultivos, como milho e feijão, em consórcio, intercaladas com plantas benéficas ao sistema, entre elas, espécies de leguminosas conhecidas popularmente como adubos verdes. Na propriedade de Jamil Corinto, o corredor é composto de girassol, duas variedades de feijão escolhidas em função de ensaios anteriores e preferência do agricultor (“Rosinha” e “Corinto”) e milho (cultivar Sol da Manhã). Os adubos verdes, que recuperam o solo, são crotalária juncea, guandu, feijão de porco. O gergelim compõe o sistema, sendo uma espécie de uso alimentar e valor comercial e por ser repelente de insetos-praga.

A disposição dos adubos verdes é importante para que as culturas possam se beneficiar dessas plantas. A crotalária é plantada ao lado do milho para que possa atrair o inseto tesourinha, que combate a lagarta do cartucho. O gergelim fica ao lado dos feijões para atrair a mosca branca e repelir formigas. Nas extremidades do corredor é plantado o girassol, que não é uma leguminosa, mas é importante no sistema porque atrai insetos benéficos polinizadores, importantes para a reprodução das abóboras que se encontram plantadas entre as linhas do milho.

O cultivo no corredor agroecológico se baseia em práticas antigas e fundamentais na agricultura de base ecológica: consórcios e rotações. Nas rotações, a cada ano se faz o cultivo em diferentes faixas. Por exemplo, na faixa em que esse ano está o milho, no ano que vem será plantado algum tipo de adubo verde ou feijão. Além disso, a escolha das variedades para compor o corredor é baseada em um trabalho prévio de avaliação de genótipos nas condições locais. A variedade de milho Sol da Manhã é plantada e selecionada na Fazenda Corinalves há vários anos e as variedades de feijão foram escolhidas pelo resultado de um ensaio conduzido dentro do próprio corredor no ciclo anterior, 2016-2017, em que apresentaram desempenho superior entre os seis tipos testados.

Parte da área onde está plantado o corredor agroecológico na Fazenda Corinalves apresenta compactação por ter passado anteriormente uma estrada no local. Há ainda o agravante da acidez do solo e a deficiência em fósforo e matéria orgânica, corrigidas pelo aporte de calcário e termofosfato nas doses recomendadas pelos resultados de análises de fertilidade, e pelo manejo da palhada das culturas e dos adubos verdes. A palhada é roçada e mantida cobrindo o solo, sendo posteriormente incorporada por ocasião do preparo para o plantio subsequente. O agricultor Jamil Corinto já vê bons resultados: “A terra já está muito melhor e apesar de todos os problemas tenho gastado muito pouco para produzir. Usei pouco adubo e só fiz uma pulverização com urina de vaca”.

O solo em que foi implantado o corredor agroecológico na propriedade de Adair Lima, em Silvânia, não precisa mais de correção, mas é um terreno pedregoso e de textura média, em área de declive. Essa situação requer cuidados especiais na composição das faixas, adequando ciclo e porte das variedades utilizadas e incluindo espécies com sistema radicular que promovam a melhor agregação do solo. A demanda dos agricultores de Silvânia é por variedades de milho destinadas ao consumo verde e também para a alimentação animal (gado e aves). Assim, neste corredor estão sendo testadas uma variedade experimental em melhoramento participativo potencialmente viável para consumo verde, chamada de milho Taquaral, e a variedade Sol da Manhã, de grãos duros, de porte mais baixo e ciclo mais precoce, também estratégica para o cultivo

Para a pesquisadora Cynthia Torres, os corredores agroecológicos alcançam o objetivo de melhorar os solos, além do melhoramento e adaptação das plantas a esse sistema de cultivo. Ela ressalta que o trabalho é feito de forma participativa, em que as demandas dos produtores se tornam objeto de pesquisa. “São fundamentais os testes feitos junto com os produtores. As práticas adotadas aqui são simples e antigas. O novo é a proposição de um sistema agroecológico viável para os pequenos agricultores de Goiás, adaptado às condições e limitações do Cerrado, baseado em seus principais cultivos, que aproveite as aptidões, conhecimento e as práticas locais, que valorize a agrobiodiversidade, otimizando o seu potencial genético e biológico, que se baseie nos recursos dos agroecossistemas, substituindo os insumos externos pela reciclagem de nutrientes e promovendo a conservação e uso eficiente de recursos locais”, declarou.

Cynthia Torres afirmou ainda que a inovação reside também em avaliar o comportamento das plantas e o desempenho do sistema a partir do uso de métodos científicos na compreensão do seu funcionamento (rendimento dos cultivos, monitoramento da fertilidade do solo a partir de parâmetros químicos, físicos e biológicos, da ocorrência de plantas invasoras e de insetos praga e inimigos naturais, além de atributos econômicos) para a sua validação, respeitando a experiência e conhecimento dos agricultores e permutando esses saberes.

O produtor Cleber Paulo de Oliveira, da comunidade João de Deus, em Silvânia, pretende implantar o corredor agroecológico nos próximos anos. Antes, ele está preparando a área com o cultivo de 12 tipos de adubos verdes. O objetivo dele não é só o da melhoria do solo, mas a comercialização de sementes. O negócio o atrai porque não é comum encontrar sementes de adubos verdes à venda e quando o agricultor consegue comprar, o preço é bem alto.

Melhoramento participativo – os participantes da visita técnica à Fazenda Corinalves também conheceram a célula de seleção, estratégia estabelecida e em validação para o para o melhoramento participativo simultâneo de milho e feijão. A área é dividida em duas partes de 600 m2, onde em uma delas é feita a seleção da variedade Sol da Manhã; a outra porção de 600 m2 é dividida em três partes de 200m2 cada, onde são plantados e selecionados os feijões Rosinha, Preto e Roxinho, separados por linhas de gergelim. Assim como no corredor agroecológico é feita a rotação das culturas. No ciclo seguinte, onde estão os feijões será plantado o milho e vice-versa.

A célula de seleção, como o corredor, é manejada organicamente, sem o uso de fertilizantes de alta solubilidade. Localizada próxima à área em que o agricultor faz a multiplicação da variedade, ainda com o uso de formulação N-P-K, a gleba de seleção do milho é visivelmente diferente da área vizinha.

Durante a visita à célula, o agricultor-monitor José Melchior, da ACAN/MCP, explicou sobre os padrões de seleção utilizados para a escolha das melhores plantas e espigas, e também sobre a amostragem posterior das sementes que constituirão o material genético a ser usado no próximo ciclo. José Melchior é um dos membros do MCP que domina o processo de melhoramento. De acordo com o pesquisador Altair Machado, as cinco regiões de Goiás, onde a ACAN atua, contam com agricultores ou técnicos capacitados para acompanhar os produtores rurais.

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