A saída da Ministra Marina Silva, após cinco anos de resistência corajosa no Governo Lula, demonstra sapiência na estratégia política de sair fortalecida em seu compromisso com o meio ambiente, e um alerta ao governo sobre a incoerência entre o discurso e a prática de ações transversais para a construção da sustentabilidade. E, mais, como o governo pode se enfraquecer diante da comunidade internacional que financia projetos para contrapartidas de responsabilidade sócio-ambiental. A falta de entendimento entre ministérios para prioridades da política econômico-social pode ser representada por Dilma Russef, que mais tem sido destacada por Lula para lhe substituir. Ela é a dicotomia entre o discurso de sustentabilidade repetido, de forma vazia, pelo presidente, nos palanques, e a luta, resistente e humilde, na tentativa, fracassada, da Ministra Marina, para a preservação da megabiodiversidade brasileira. E, a Amazônia, é apenas um destaque nessa riqueza.
O pedido de demissão da ministra do meio ambiente mostra o desperdício do esforço de quem tentou e não conseguiu colocar em pauta, as estruturas necessárias para não fazer do Brasil a Opep do biodiesel, ou um dos maiores emissores de gases causadores do efeito estufa, em função de desmatamentos, queimadas, ou ainda estar no rol de países desenvolvidos sem entender a diferença entre ser superavitário na balança comercial, via exportação de grãos de monocultura, e a necessidade de matar a fome do povo, não através de Bolsa Família, mas com incentivos para a diversificação da agricultura, em larga e pequena escala, e reforma agrária inclusiva, familiar. Os mega plantadores de soja, cana- de- açúcar e criadores de gado, não podem se queixar.
Um país que não investe em políticas de saúde preventiva, e sim na liberação de recursos emergências, via decreto, para tentar frear epidemias de dengue, febre-amarela, e outras, por falta de falta de saneamento, causa indignação a quem sabe das conseqüências ao povo. Apesar de se alfabetizar depois dos 15 anos de idade, Marina aprendeu, rapidamente, teorias acadêmicas revolucionárias na construção de novos paradigmas, com o da sustentabilidade cidadã. Com Chico Mendes vivenciou a luta de comunidades e populações tradicionais, como índios e ribeirinhos.
O acerto e o ganho político que teve o presidente Lula, em seu primeiro mandato, ao convidar a então senadora Marina Silva – sempre muito bem votada nos pleitos parlamentares que concorreu – para ocupar uma pasta transversal, como a do meio ambiente, ele não terá, agora, independentemente do domínio técnico-político do substituto. O desafio, agora será o desgaste que o governo sofrerá com uma saída tão estrategicamente pensada como foi a da ministra Marina Silva. Orgulhosamente ela pareceu não se incomodar em dizer “Eu mesma fui chamada, o tempo todo, a ministra dos bagres”. Já que o presidente Luis Inácio Lula, também Silva, como a ministra, parece ainda não entender o significado de pequenos gestos – como cuidar da preservação de bagres, ou não jogar, como ele o fez, papel de bombom no chão,- diante da complexidade caprichosa do Planeta Terra, do Universo.
Liliana Peixinho – Jornalista, ativista ambiental – Fundadora do Movimento Independente AMA- Amigos do Meio Ambiente.
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