Recente pesquisa elaborada por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP)-Piracicaba/SP detectou níveis elevados de metais pesados ao longo da Bacia do Rio Tietê. Estes metais pesados, especialmente mercúrio, cádmio, chumbo e níquel são resultado de dejetos industriais e residenciais ao longo do Tietê. O alto índice de metal pesado na água afeta diretamente e indiretamente a população, causando diversos problemas de saúde, a curto, médio ou longo prazo. São as consequências de uma sociedade que durante séculos optou pelo desenvolvimento insustentável.
A constatação destes metais pesados no Rio Tietê demonstra as escolhas feitas pela sociedade no decorrer dos séculos, especialmente pós Revolução Industrial. Este não é um caso isolado. No Brasil e em todo o mundo, nos deparamos com uma diminuição significativa da quantidade de água doce disponível. É interessante esclarecer que não é uma diminuição da quantidade de metros cúbicos de água. Esta permanece a mesma desde a criação do mundo. É uma diminuição da água própria para uso humano e mesmo de outras espécies animais. A quantidade de água doce no planeta é apenas 2,5% e destes, 1,8% estão em geleiras, 0,6% em camadas subterrâneas e 0,015% em rios ou lagos. O restante pode ser encontrado na umidade do solo, em vapor na atmosfera ou na matéria viva existente.
Atualmente temos tecnologias que podem minimizar ou mesmo acabar com a contaminação das águas, detectar e avaliar a procedência dos metais pesados. Já temos disponíveis tecnologias sustentáveis de reuso da água que, além de tratar, podem prevenir possíveis contaminações. Utilizam-se, inclusive, satélites para impedir o esgotamento de aquíferos e suas contaminações. Temos, portanto, ferramentas capazes de impedir situações como a do Rio Tietê e de muitos outros rios mundo afora. Porém, as barreiras para a implantação destas tecnologias, principalmente nas empresas poluidoras são muitas: desde a econômica, legislativa, financeira, até mesmo a cultural, onde sempre se acreditou que nosso “lixo” deveria ser jogado no rio, pois este leva para longe e tudo está resolvido. Para onde mesmo?
A poluição das águas não pode ser entendida apenas como um problema de responsabilidade do poder público, ou das empresas poluidoras. A responsabilidade é de todo cidadão. Faz-se necessário gestar uma nova cultura da água. Uma cultura que tenha uma visão do todo, que entenda a necessidade da água como fator essencial para a nossa continuação como espécie neste mundo. Precisamos criar uma nova forma de relacionamento com a água, mudar nossos valores e princípios éticos, mudar nossos estilos de vida e compreender nossa interdependência com o meio ambiente e a natureza.
Autor: Amarildo R. Ferrari