Ciclo da Água em Indústrias e Custo da Água

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O ciclo da água em indústrias compreende todos os trajetos percorridos pela água para todos os seus usos. O custo e cobrança pelo seu uso vem impulsionando práticas de racionalização em seu uso e reuso de águas.

Em decorrência de uma relativa abundância de água, nunca houve uma grande preocupação do setor industrial com este insumo, com exceção dos setores que se utilizam de água como matéria-prima ou com influência direta sobre o produto final. Atualmente, com o surgimento de problemas relacionados à escassez e poluição de água nos grandes centros urbanos, começa a haver um maior interesse por parte de vários setores econômicos pelas atividades nas quais a água é utilizada, o que também é motivado pelas recentes políticas federais e estaduais sobre o gerenciamento dos recursos hídricos.

O novo arcabouço legal, tendo por objetivo garantir água na quantidade e qualidade necessárias para a atual e futura gerações, introduziu como um de seus principais instrumentos a cobrança pelo uso da água.

O resultado da implantação dessa cobrança vai representar um aumento nos custos de produção para o setor industrial, o qual enfrentará dificuldades em termos competitivos, especialmente no atual cenário econômico, uma vez que não poderá repassar estes custos para seus produtos finais.

Esta situação tem conduzido muitas indústrias à busca por um novo modelo para o gerenciamento da água em seus processos, considerando novas opções e soluções que impliquem em autonomia no abastecimento de água e racionalização no seu consumo, onde o reúso se torna não apenas uma forma de garantir seu crescimento, mas até mesmo uma questão de sobrevivência.

A água é um insumo essencial à maioria das atividades econômicas e a gestão deste recurso natural é de suma importância na manutenção de sua oferta em termos de quantidade e qualidade. Atitudes proativas são fundamentais, nesse sentido, pois apesar da aparente abundância de recursos hídricos no Brasil (14 % das águas doces do planeta e 53 % do continente sul americano), sua distribuição natural é irregular nas diferentes regiões do País.

Foi pela carência de instrumentos de gestão que conflitos entre usuários se instalaram em algumas bacias hidrográficas brasileiras até o final do século XX, situação que está sendo revertida com a implementação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH. Trata-se de fato importante, uma vez que o cenário que se apresenta é o de crescimento urbano-industrial e agrícola que certamente será acompanhado pelo aumento da demanda de água.

Sendo o setor industrial um importante usuário de água, é fundamental que seu desenvolvimento se dê de forma sustentável, adotando práticas como o uso racional e eficiente da água. As garantias de quantidade e qualidade de água em nossos mananciais, as quais permitirão novos investimentos, expansão da produção industrial e geração de emprego e renda, só poderão ser conseguidas por meio de um amplo esforço do poder público, dos usuários e da comunidade em torno da gestão participativa, descentralizada, harmônica e racional das águas no âmbito dos Comitês de Bacias. As federações e associações de indústrias têm um importante papel no processo de mobilização e representação dos seus filiados nos Comitês.

A reciclagem ou reúso de água não é um conceito novo na história do nosso planeta. A natureza, por meio do ciclo hidrológico, vem reciclando e reutilizando a água há milhões de anos, e com muita eficiência. Cidades, lavouras e indústrias já se utilizam, há muitos anos, de uma forma indireta, ou pelo menos não planejada de reúso, que resulta da utilização de águas, por usuários de jusante que captam águas que já foram utilizadas e devolvidas aos rios pelos usuários de montante. Milhões de pessoas no mundo todo são abastecidas por esta forma indireta de água de reúso.

Durante muitos anos este sistema funcionou de forma amplamente satisfatória, o que contudo não acontece mais em muitas regiões, face ao agravamento das condições de poluição, basicamente pela falta de tratamento adequado de efluentes urbanos, quando não pela sua total inexistência.

Evoluiu-se, então, para uma forma denominada direta de reúso, que é aquela em que se trata um efluente para sua reutilização em uma determinada finalidade, que pode ser interna ao próprio empreendimento, ou outra externa, para uma finalidade distinta da primeira, como por exemplo, a prática de reúso de efluentes urbanos tratados para fins agrícolas. A forma direta ou planejada, utiliza tecnologias e práticas de renovação e reúso de água, que atravessaram uma série de fases nos últimos duzentos anos.

Fases de Reúso de Água

A primeira fase foi motivada por uma vertente baseada no conceito conservacionista, em que os dejetos da sociedade deveriam ser conservados e utilizados para preservar a fertilidade dos solos, enquanto a outra, numa abordagem mais pragmática, era direcionada para a eliminação da poluição dos rios. No final do século XIX, o conceito de tratamento de efluentes domésticos por disposição nos solos foi utilizado na Grã-Bretanha, Alemanha e nos Estados Unidos com um enfoque central na redução da poluição dos rios e não como um método conservacionista de recarga de aquíferos ou de aumento de nutrientes para o solo.

Na segunda fase, que se pode considerar até o final dos anos noventa, o principal enfoque foi basicamente a necessidade de se conservar e reusar água em zonas áridas. Verificou-se grandes esforços de reúso de água para o desenvolvimento agrícola em zonas áridas dos Estados Unidos, como Califórnia e Texas, e em países como a África do Sul, Israel e Índia. Em Israel, por exemplo, o reúso de águas residuárias tornou-se uma política nacional em 1955. O plano nacional de águas, incluía reúso dos principais sistemas de tratamento de efluentes das cidades no programa de desenvolvimento dos limitados recursos hídricos do país.

A terceira fase, na qual nos encontramos atualmente, acabou se sobrepondo à segunda, e é baseada na urgente necessidade de se reduzir a poluição dos rios e lagos. Como as exigências ambientais foram se tornando cada vez mais restritivas, os planejadores concluíram que dados os altos investimentos requeridos para o tratamento dos efluentes, se torna mais vantajoso reutilizar estes efluentes ao invés de lançá-los de volta aos rios.

No Brasil, as externalidades ambientais associadas ao setor industrial e ao rápido crescimento urbano, no contexto do desenvolvimento das regiões metropolitanas, apontam para cenários futuros de escassez hídrica.

Em São Paulo, já existem regiões com graves problemas de escassez e de poluição, que acabam gerando conflitos entre usuários agrícolas e urbanos, navegação e geração de energia e industrial com abastecimento público.

Para Gerenciar os Recursos Hídricos

Para melhor gerenciar os recursos hídricos, bem como promover seu uso de forma racional, a legislação de recursos hídricos estabeleceu a outorga e a cobrança pelo uso da água, dentre outros instrumentos de gestão.

Em conjunto com os novos instrumentos de gestão dos recursos hídricos que estão sendo implantados no país, o uso de alternativas tecnológicas para reciclagem e reuso de efluentes industriais e urbanos poderá reduzir os custos de produção nos setores hidrointensivos, além de promover a recuperação, preservação e conservação dos recursos hídricos e dos ecossistemas urbanos.

Por outro lado, verifica-se que a concentração de indústrias ocorre justamente em regiões que apresentam elevado grau de urbanização, o que implica a necessidade das empresas buscarem reduzir o consumo de água, novas fontes de abastecimento e implantar sistemas fechados de utilização da água, com vistas à reciclagem do que até então era considerado como resíduo descartável, ampliando assim, o seu reaproveitamento para fins produtivos. Desta forma, poderá haver uma minimização dos conflitos pelo uso da água, especialmente, com o setor de abastecimento público.

Assim, para promover a adoção de sistemas de racionalização do uso da água,há que se considerar, no entanto, alguns aspectos restritivos quanto à água proveniente de reuso seja do tipo macro externo, seja do tipo macro interno.

No caso do reúso macro externo, a utilização de água de reúso proveniente de estações de tratamento de efluentes de origem doméstica pode ser reaproveitada após sistemas de tratamento convencional por apresentarem baixa toxicidade.

A água de reúso proveniente de estações de tratamento de efluentes urbanos para processos industriais tem sido utilizada, predominantemente, em sistemas de refrigeração, em especial, nos empreendimentos localizados próximos às ETE´s.

A implantação de sistemas eficientes de reúso de água proveniente do setor público pode se tornar inviável, à curto prazo, caso não sejam considerados os seguintes fatores:

  • Políticas e planos diretores consistentes de reúso das empresas concessionárias;
  • Localização das estações de tratamento e sua proximidade de pólos industriais;
  • Implantação de infra-estrutura (redes de distribuição);
  • Garantia e controle da qualidade;
  • Garantia de cumprimento dos contratos firmados; e
  • Regulamentação normativa e legal.

No caso do reúso macro interno é preciso ter consciência que ele não substitui integralmente a necessidade de água de uma planta industrial, pois existem limitações de ordem técnica, operacional e ambiental que restringem a utilização de sistemas de circuito fechado. Além disso, o reúso macro interno deve ser realizado após uma avaliação integrada do uso da água na fábrica, a qual deve estar contemplada no Programa de Conservação e Reúso de Água (PCRA). É importante ter em mente que antes de se pensar no reúso de efluentes da própria empresa, é preciso implantar medidas para a otimização do consumo e redução de perdas e desperdícios, além de programas de conscientização e treinamento.

A adoção destas práticas apresenta os seguintes benefícios:

Benefícios ambientais:

  • Redução do lançamento de efluentes industriais em cursos d´água, possibilitando melhorar a qualidade das águas interiores das regiões mais industrializadas.
  • Redução da captação de águas superficiais e subterrâneas, possibilitando uma situação ecológica mais equilibrada.
  • Aumento da disponibilidade de água para usos mais exigentes, como abastecimento público, hospitalar, etc.

Benefícios econômicos:

  • Conformidade ambiental em relação a padrões e normas ambientais estabelecidos, possibilitando melhor inserção dos produtos brasileiros nos mercados internacionais;
  • Mudanças nos padrões de produção e consumo;
  • Redução dos custos de produção;
  • Aumento da competitividade do setor;
  • Habilitação para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da cobrança pelo uso da água.

Benefícios sociais:

  • Ampliação da oportunidade de negócios para as empresas fornecedoras de serviços e equipamentos, e em toda a cadeia produtiva;
  • Ampliação na geração de empregos diretos e indiretos;
  • Melhoria da imagem do setor produtivo junto à sociedade, com reconhecimento de empresas socialmente responsáveis.

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