Eco-cidadania com rosto jovem

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Na emergência de novos direitos, face aos sérios problemas que a sociedade mundial experimenta, destaca-se a questão ambiental, que aos poucos vai configurando-se, efetivamente, como “direito verde” ou conjunto de direitos ambientais. No Brasil, a Constituição Cidadã de 1988, no seu art. 225, Cap. VI é contundente a esse respeito: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Na linha da consolidação dos direitos ambientais, a UNESCO lançou oficialmente, no dia 01 de março de 2005, a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. O principal objetivo da Década é encorajar os governos dos países membros da ONU a integrar o conceito de desenvolvimento sustentável às políticas educacionais e aos processos de aprendizagem. No Brasil, o lançamento da Década aconteceu durante o Congresso Ibero-americano sobre Desenvolvimento Sustentável 2005, que se realizou no Rio de Janeiro (RJ) nos dias 31 de maio, 01 e 02 de junho de 2005.
Ao instituir a preocupação com o desenvolvimento sustentável, a Década almeja melhorar a qualidade do ensino, facilitar a troca de experiências entre os diversos atores envolvidos e aumentar a atenção pública ao assunto. A definição de educação para o desenvolvimento sustentável ultrapassa a questão ambiental (como água, mudanças climáticas, biodiversidade, etc.) e agrega estes conceitos a aspectos econômicos para o desenvolvimento (luta contra a pobreza, transformações sociais, eco-turismo etc.) e a valores sócio-culturais, tais como igualdade de gênero, promoção da diversidade cultural e construção de uma cultura de paz. Assim, ao integrar o cuidado ambiental num conceito de paz mais abrangente, pode-se afirmar que esta não será mais somente “branca”, mas também “verde”!

a) Sensibilidade “verde” mais aguçada

Apesar das dificuldades de efetivação de uma autêntica Educação Ambiental (ou para o “Desenvolvimento Sustentável”, como outros preferem chamá-la), a situação ambiental caótica que todos estamos experimentando na própria pele e em nível planetário (aquecimento global), vem contribuindo para acelerar o processo de sensibilização e conscientização em torno ao cuidado do meio ambiente. Por isso hoje, mais do que nunca, proliferam movimentos e organizações não-governamentais dedicadas exclusivamente à proteção e à defesa do meio ambiente.
Este é um tempo propício para ajudar os jovens a fundamentarem a sua sensibilidade ecológica e a assumirem um compromisso permanente com o cuidado ambiental. Aliás, a inserção em movimentos ambientais é também uma forma muito atual e “diferente” de conscientização e engajamento político.
Partindo da perspectiva do cuidado ambiental como ação cidadã, efetivamente, assistimos à emergência do chamado sujeito ecológico. Esse sujeito, “concebido enquanto um tipo ideal, traduz uma subjetividade ambientalmente orientada, capaz de encarnar os dilemas societários, éticos e estéticos configurados pela crise societária em sua tradução contra-cultural, tributário de um ideal de sociedade socialmente emancipada e ambientalmente sustentável (…). O sujeito ecológico demarca um campo de ideais disponíveis para a formação identitária do jovem que ingressa na esfera pública e que partilha, em algum nível, um projeto político emancipatório. A idéia de mudanças radicais cultivada pelo ideário ecológico abarca não apenas uma nova sociedade, mas também um novo sujeito, que se vê como parte dessa mudança societária e a compreende como uma revolução de corpo e alma, ou seja, uma reconstrução do mundo incluindo os estilos de vida pessoal”.

b) Matizes no aprendizado do cuidado

Com o passar dos anos, desde o surgimento dos movimentos ambientalistas na década dos 70 e a realização de diversas Conferências Mundiais (Estocolmo, Tbilisi, Rio), o conceito de Educação Ambiental foi sofrendo evoluções. Na prática, ela segue caminhos diversificados. E isso incide também no tipo de engajamento juvenil e na identidade do chamado “sujeito ecológico”, como afirma CARVALHO (2004): “São diversos os caminhos pelos quais os jovens podem se aproximar dos valores ecológicos, identificando-se em diferentes níveis com os ideais do sujeito ecológico, uma vez que não se trata de uma identidade totalizante. Esse acercamento dos ideais ecológicos pode assumir de modo não-excludente as formas de adesão a uma luta, a uma ação, a um modo de vida ou a um interesse intelectual. Dessa forma, nomear-se ecologista ou, ao menos, ecologicamente sensibilizado/simpatizante pode ganhar os sentidos de adesão a um ideário de ação militante; pode ser uma opção de engajamento grupal pontual e distintiva; ou ainda signo descrito de um interesse ambiental que pode combinar em diferentes gradações a sensibilidade política com a escolha da formação profissional/intelectual”.
Por causa do anterior, os programas de Educação Ambiental podem seguir roteiros diferentes, dependendo do acento que eles derem a determinadas ações, situações e metodologias: “Sauvé et al. (2000,) classificam as representações ambientais em sete categorias: como natureza, como recurso, como problema, como sistema, como meio de vida, como biosfera e como projeto de vida. A síntese de cada percepção … não busca um sistema fechado de representações nem pretende se inserir na posição cartesiana de agrupar as representações sociais em pacotes fechados e sem diálogo entre si, apenas oferece uma síntese crítica que possa contribuir com o debate sobre as representações do ambiente (Sato, 2001)”.
Segundo a mesma autora, “a categorização aqui apresentada não está concluída é que uma ação ou pensamento pode estar conectado com o outro. Igualmente, não existe “certo” ou “errado”. São apenas concepções sobre o mundo, as quais podem manter diálogos ou buscar interface, e uma pessoa pode utilizar uma técnica ou outra, através da ação e da reflexão. Ou, como consideram Caride & Meira (2001), “são momentos, inclusive, para rever nossas representações”.
Contudo, seja qual for o tipo de Educação Ambiental que os grupos, movimentos juvenis e organizações não governamentais quiserem seguir, eles não deverão desconsiderar as recomendações da Agenda 21 e os princípios da Carta da Terra (o respeito e a manutenção de todas as formas de vida, a integridade ecológica, a justiça social e econômica, a paz, a democracia e a não-violência).

c) Pauta e currículo sócio-ambiental

Certamente, para sustentar e alicerçar as práticas e o engajamento “eco-cidadão” dos jovens, será preciso integrar adequadamente a dimensão da Educação Ambiental no seu processo formativo, ajudando-os a adquirir um mínimo de conhecimentos, de habilidades e de sensibilidades, complementando, numa perspectiva libertadora, a reflexão e a práxis em torno à totalidade da questão ambiental nos seus aspectos biofísicos e sociais. Ou, como bem dizem os jovens num jargão mais popular: “cuidar do meio ambiente é cuidar da nossa gente!”.
Uma ampla temática pode servir como pauta formativa válida, sempre e quando forem feitas as devidas adaptações e complementações, conforme a realidade de cada grupo e as novas descobertas das ciências: distinção entre ecologia e meio ambiente; desenvolvimento sustentável; paradigma do cuidado; teoria da Gaia; conferências ambientais, Agenda 21; a Carta da Terra; meio ambiente e relações de gênero; critica do conceito de desenvolvimento e do modelo desenvolvimentista implantado no Brasil; aquecimento global; escassez e poluição dos recursos hídricos; enchentes; poluição do ar; deserto verde, desmatamento e incêndios florestais; problemas dos biomas brasileiros; biodiversidade e biopirataria; grilagem de terras; agronegócio; sojicultura; eucalipto e bio-combustíveis; conflitos agrários; extração predatória de madeira; siderúrgicas e produção ilegal de carvão; terras públicas e mineração; Base de Alcântara; impactos sócio-ambientais de grandes obras de infra-estrutura; etc.

Autor: Gustavo Covarrubias Rodríguez

Referências Bibliográficas:

i CARVALHO, Isabel Cristina. Ambientalismo e juventude: o sujeito ecológico e o horizonte da ação política contemporânea. In NOVAES (2004), pp. 71-72.
ii Ibid, p. 71.
iii SATO, Michele. Educação Ambiental. São Carlos: Rima Editora (2004), p. 11.
iv Ibid., p. 12
v Às vezes, para designar a sensibilidade ambiental, usa-se muito o conceito paradigmático do “cuidado”.

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