As pastagens são ecossistemas constituídos basicamente por plantas herbáceas que servem de alimento para herbívoros, geralmente de grande tamanho. Em nível mundial existem importantes extensões de pastagens selvagens: a estepe russa, a savana africana, a pradaria norte-americana, o pampa argentino e as planícies venezuelanas. Na Europa, ao contrário, a maior parte das pastagens, com exceção das alpinas, na alta montanha, são pastagens semi-naturais, utilizadas como exploração pecuária.
Hoje em dia considera-se que a pecuária extensiva, baseada nos ecossistemas de pastagens, sobre os quais sustenta-se, sabiamente praticada estimula o funcionamento produtivo e indefinidamente sustentável destes ecossistemas. Contribui por um lado para a manutenção da produção do ecossistema, e por outro para fazer útil e ordenar o território, ajudando assim a proteger o patrimônio natural. E é um componente importante na economia de populações rurais, cuja manutenção é muito importante na hora do ordenamento territorial.
Bases Ecológicas da Exploração
Exploração natural das pastagens baseia-se no fato dos herbívoros, através do pastoreio, simplificarem as zonas florestais e de matagais, transformando-as em curtos ervaçais intercalados. Os animais, além disso, adubam as pastagens por meio de seus excrementos, o que permite a continuidade exploradora. Como regra geral, os consumidores (herbívoros) aceleram a reciclagem do sistema.
Ecologicamente delineia-se o problema de manter a estabilidade global do sistema, permitindo a exploração inclusive intensa em determinadas áreas. Isto é resolvido através da criação de estruturas reticulares, isto é, um mosaico de arbustos e zonas florestais que envolva as pastagens, e que proporcione a todo o sistema a estabilidade necessária para permitir a máxima produção compatível com a permanência do sistema. As zonas florestais intercaladas são, de fato, barreiras protetoras para as pastagens.
A exploração é um fenômeno normal na natureza, sempre ocorrendo. A vegetação não teria evoluído, como o tem feito, sem a participação dos herbívoros. De fato, nos ecossistemas naturais o que encontramos é um gradiente de exploração, desde intensidades máximas em pontos muito específicos, até outros onde os fitófagos praticamente não atuam. Conservar, pois, é manter estes gradientes naturais.
Os Herbívoros Integrados no Sistema
As pastagens semi-naturais nasceram graças a atividade dos animais herbívoros, e formam um sistema conjunto com eles. Não é possível manter as pastagens sem animais que as consumam, ou sem pessoas que as adubem e cortem amiúde. No primeiro caso consegue-se uma estabilidade maior e os gastos de exploração são compensados com folga, com os ingressos da pecuária.
Há que tratar de manter um equilíbrio entre o dinamismo das pastagens e a estabilidade proporcionadas pelos retículos florestais, ou seja, um equilíbrio entre a exploração e a conservação ao mesmo tempo. Este tipo de exploração conservacionista opõe-se à má gestão da exploração, isto é, à rapina e à espoliação.
O pastoreio por parte dos herbívoros induz ao aumento das plantas adaptadas ao mesmo, o que contribui para a manutenção do sistema. Uma má gestão do gado atuante sobre as pastagens pode levar a alguma das seguintes situações:
– Pastoreio excessivo: Aumenta o desfolhamento das plantas e sua sensibilidade frente o “stress” hídrico. Também aumenta-se o pisoteamento. Tudo isto impede a recuperação das espécies herbáceas formadoras das pastagens, contribuindo para a desnudação e erosão dos solos.
– Pastoreio escasso: Provoca o aparecimento de espécies pouco palatáveis para os herbívoros domésticos. É reforçada desta maneira a tendência sucessional natural para a formação de floresta.
– Pisoteamento excessivo: Produz a compactação do solo, o que pode criar ambientes edáficos anaeróbios. Pode-se limitar assim a reciclagem natural de nutrientes e o funcionamento das raízes das plantas.
Importância dos Retículos Silvi-pastorais
As pastagens, como mencionado anteriormente, originaram-se pela atividade dos animais herbívoros, assim como por outros fenômenos (incêndios florestais, deslizamentos, etc.) sobre as zonas florestais. Isto ocasionou o aparecimento de uma zona de borda da floresta, dominada por cipós e arbustos protetores, ao redor do que tinha sido a ferida da floresta, cicatrizada em forma de comunidades vegetais lenhosas de rápido desenvolvimento ou comunidades herbáceas de crescimento ainda mais rápido. Constituíram a origem dos campos atuais, em decorrência da exploração natural da floresta. Nos campos naturais atuais predominam os tipos de ervas grandes e tenras, enquanto que nos limites entre estes campos e a floresta encontramos plantas e arbustos que rebrotam com grande facilidade (sarças, aveleiras, etc.).
Já nos campos semi-naturais explorados pela pecuária estas zonas limites, florestais ou semi-florestais, têm grande importância. Contribuem para estabilizar as pastagens que, de outra maneira, perderiam material rapidamente pelo grande dinamismo do sistema, e também facilitam o ordenamento dos mesmos pela exclusão temporária do gado dos campos ceifados. São estruturas que facilitam a regulação e gestão das pastagens. Conhecendo a importância destas estruturas, pode-se realizar uma visão crítica de alguns dos desenvolvimentos efetuados até agora, como as florestas de pínus e eucaliptos, que carecem do tipo de formações vegetais capazes de realizar esta função; ou o conceito negativo que se tinha até recentemente do pastoreio por parte da cabra, que pode constituir-se em um elemento auxiliar desbastador dos sarçais e arbustos vivos, assim como um bom fertilizador das pastagens.
Finalmente, há que dar especial ênfase ao papel protetor dos corta-ventos e florestas protetoras para as pastagens. O melhor corta-vento, e o mais econômico, seria uma floresta natural densa, com boas zonas de sarçais e de arbustos antes de chegar às pastagens. Suas funções: evitar a erosão em encostas fortes, diminuir o efeito de ventos violentos, de escoamentos fortes durante temporais freqüentes, reter a neve no inverno, etc. Produzem, definitivamente, estabilidade paisagística.