Gestão ambiental nas empresas: um comentário sobre a indústria calçadista

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Apesar de não ser recente, e de já ter sido tratada por muitos no passado como uma questão ideológica de grupos ecologistas que não aceitavam a sociedade de consumo moderna, a preocupação com a preservação ambiental assume hoje uma importância cada vez maior para as empresas.

O que tem ocorrido recentemente é que as dimensões econômicas e mercadológicas das questões ambientais tem se tornado cada vez mais relevantes. Elas têm representado custos e/ou benefícios, limitações e/ou potencialidades, ameaças e/ou oportunidades para as empresas. Uma breve análise nos periódicos recentes (jornais e revistas) destinados ao público empresarial e financeiro é suficiente para comprovar a afirmativa de que os vínculos das empresas e dos mercados com as questões ambientais são cada vez maiores, mais explícitos e mais positivos.

Apesar das surpresas da história e das limitações das estratégias, as empresas investem e aprimoram cada vez mais suas estratégias competitivas para enfrentar a competição global, as incertezas de mercado, o rápido desenvolvimento tecnológico e a facilidade de comunicação.

Autores como Porter, Linde e Donaire têm destacado que as inovações para ajuste à regulamentação ambiental podemgestao ambiental empresas resultar em economia de tempo e dinheiro. Estes autores criticaram as resistências às inovações, alertando para o fato de que manter processos poluidores causa não somente danos ecológicos, mas também perdas de competitividade (Nascimento, 2009).

A introdução da variável ambiental alterou as fontes de informação utilizadas pelas empresas para o desenvolvimento de projetos. A preocupação com a reconversão do produto no período pósuso e, quando esgotado suas possibilidades de reconversão, como fazer a disposição final da maneira mais adequada.

Cabe salientar que o Sistema de Gestão Ambiental é um estágio bem mais avançado que o uso de tecnologias fim de tubo para adequar-se a legislação ambiental. A implantação de um SGA permite a certificação ambiental da empresa (ISO 14000) e é um passo rumo à certificação de produto, também previsto na ISO 14000.

Nestes últimos trinta anos, desde a Conferência de Estocolmo de 1972 que inseriu a questão ambiental de forma prioritária e definitiva na agenda internacional, os problemas ambientais mudaram de significado e importância, e estão cada vez mais presentes nos diferentes elementos que influem nas decisões empresariais. No que se refere à importância, é nítido ver a incorporação crescente das preocupações ambientais em todas as grandes questões estratégicas da sociedade contemporânea, algo que não ocorria há algumas décadas (SOUZA, 2002).

Ainda segundo Souza, 2002, por outro lado, em termos de significado, a questão ambiental passou a não mais ser tratada, mesmo nos meios empresariais, apenas como uma “agenda negativa”. Com o passar dos anos, sobretudo a partir da década de 80, o surgimento de novos conceitos – como o Desenvolvimento Sustentável e o Ecodesenvolvimento no campo das teorias de desenvolvimento, e a Produção Mais Limpa e o Gerenciamento Ambiental da Qualidade Total (TQEM) no campo empresarial, dentre outros – foi acentuando os vínculos positivos entre preservação ambiental, crescimento econômico e atividade empresarial.

Assim, a questão ambiental, crescentemente incorporada aos mercados e às estruturas sociais e regulatórias da economia, passou a ser um elemento cada vez mais considerado nas estratégias de crescimento das empresas, seja por gerar ameaças como também oportunidades empresariais.

O chamado comércio justo, que busca criar oportunidades sociais e econômicas para pequenos produtores rurais e preservar o meio ambiente, triplicou de tamanho de 2005 pra cá. (FERNANDES, 2009).

As indústrias e empresas precisam incorporar nas dimensões competitivas a questão ambiental como forma de sobrevivência no mercado. O processo produtivo deve ser repensado. Sempre há solução.

O engenheiro Sidney Loeb desenvolveu os princípios de um sistema de filtros capazes de extrair o sal da água marinha e torna-la própria para a agricultura e para o comércio doméstico. (TELLES, 2009).

Assim como Loeb, os engenheiros das empresas poderiam se concentrar em desenvolver processos limpos e produtos que favoreçam o reuso, a diminuição de consumo de matéria-prima e a reciclagem.

Desta forma, além das pressões regulatórias e sociais, atualmente pressões ambientais podem ser impostas sobre a empresa por supridores e compradores, por acionistas, bancos ou investidores, por consumidores e/ou por concorrentes. As práticas ambientais corporativas, com isso, têm se tornado menos uma questão ambiental apenas, e mais uma questão de estratégia competitiva, marketing, finanças, relações humanas, eficiência operacional e desenvolvimento de produtos.

Há basicamente três razões para que as empresas tenham buscado melhorar a sua performance ambiental: primeiro, o regime regulatório internacional está mudando em direção à exigências crescentes em relação à proteção ambiental; segundo, o mercado está mudando (tanto de fatores quanto de produtos); e terceiro, o conhecimento está mudando, com crescentes descobertas e publicidade sobre as causas e conseqüências dos danos ambientais (SOUZA, 2002).

A busca permanente da qualidade ambiental é portanto um processo de aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global de acordo com a política ambiental estabelecida pela organização.

Há também objetivos específicos da gestão ambiental, claramente definidos segundo a própria norma NBR-ISO 14.001 que destaca cinco pontos básicos.

Além dos objetivos oriundos da norma ISO, em complemento, na prática, observam-se outros objetivos que também podem ser alcançados através da gestão ambiental, de acordo com “ambiente Brasil”:

• gerir as tarefas da empresa no que diz respeito a políticas, diretrizes e programas relacionados ao meio ambiente e externo da companhia;

• manter, em geral, em conjunto com a área de segurança do trabalho, a saúde dos trabalhadores;

• produzir, com a colaboração de toda a cúpula dirigente e os trabalhadores, produtos ou serviços ambientalmente compatíveis;

• colaborar com setores econômicos, a comunidade e com os órgãos ambientais para que sejam desenvolvidos e adotados processos produtivos que evitem ou minimizem agressões ao meio ambiente.

Finalidades Básicas da Gestão Ambiental e Empresarial

De acordo com “ambiente Brasil”, a finalidade básica da gestão ambiental empresarial é servir de instrumentos de gestão com vistas a obter ou assegurar a economia e o uso racional de matérias-primas e insumos, destacando-se a responsabilidade ambiental da empresa:

• Orientar consumidores quanto à compatibilidade ambiental dos processos produtivos e dos seus produtos ou serviços;

• Subsidiar campanhas institucionais da empresa com destaque para a conservação e a preservação da natureza;

• Servir de material informativo a acionistas, fornecedores e consumidores para demonstrar o desempenho empresarial na área ambiental;

• Orientar novos investimentos privilegiando setores com oportunidades em áreas correlatas;

• Subsidiar procedimentos para a obtenção da certificação ambiental nos moldes da série de normas ISO 14.000;

• Subsidiar a obtenção da rotulagem ambiental de produtos.

Os objetivos e as finalidades inerentes a um gerenciamento ambiental nas empresas evidentemente devem estar em consonância com o conjunto das atividades empresariais. Portanto, eles não podem e nem devem ser vistos como elementos isolados, por mais importantes que possam parecer num primeiro momento.

A indústria calçadista

Durante a fabricação do calçado, geram-se resíduos de retalhos de couros, possíveis refugos de solado, entressola ou palmilha do calçados e os resíduos em forma de pó oriundo do lixamento do calçado na fase de acabamento, entre outros.
Garlet (1998) afirma que muitas indústrias o depositam estes resíduos em áreas a céu aberto, e isto causa vários problemas ambientais, como poluição visual, proliferação de insetos e pequenos animais, além de existir uma ameaça constante de combustão do material. Segundo este mesmo autor, algumas indústrias vêm jogando esses resíduos em depósitos clandestinos, escondidos em locais de difícil acesso para fugir das fiscalizações dos órgãos competentes, e sem tomar nenhum tipo de cuidado.

Além do destino dos resíduos, verifica-se na indústria calçadista a não preocupação com a gestão ambiental. Percebo que diretores e profissionais que criam modelos e processos não se preocupam com o destino final e o meio ambiente.

Agora, com a pressão dos consumidores e fornecedores, as indústrias estão começando a implementar aos poucos algumas estratégias.
Assim como mencionado acima, mesmo que seja voltado à estratégia ou pressão da legislação, a indústria está começando a implementar os programas. Melhor assim, do que ficar alheio à situação.

Autora: Aleteia Cordero Leal Oliveira

Referências Bibliográficas

Sistema de Gestão ambiental. Disponível em:http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.html&conteudo=./gestao/sistema.html> Acesso em 12/04/2010.

FERNANDES, N. Não é mais só conversa de ONG. Exame.Edição 941 Ano 43 Nº 7 22/04/2009.

GARLET, G. & GREVEN, H. A. Aproveitamento de resíduos de E.V.A. da indústria calçadista na construção civil. Anais do Workshop sobre Reciclagem e reutilização de resíduos como materiais de construção civil. ANTAC – PCC /USP, São Paulo, 1996;

NASCIMENTO, L.F. Competitividade versus sistema de gestão ambiental. Disponível em: <http://www.portalga.ea.ufrgs.br/acervo/ga_art_06.pdf>. Acesso em 11/04/2010.

SOUZA, R.S. Evolução e condicionantes da gestão ambiental nas empresas. REAd – Edição Especial 30 Vol. 8 Nº. 6, nov-dez 2002.
TELLES, M. A energia que vem do sal. Época Edição Dupla de Aniversário Nº 575 25 Maio de 2009
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