Educação Ambiental nas Escolas

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Desde que o americano Al Gore e o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 2007, o mundo tem mostrado uma grande perplexidade em relação aos assuntos relacionados ao meio ambiente.

Estas preocupações, que para muitos pensadores inicio-se há muito tempo, demorou a chegar à população em geral, o que acarretou nesta desordem ambiental que estamos vivendo.

Segundo Reigota (1994), o problema ambiental não está na quantidade de pessoas que existe no planeta e que necessita consumir cada vez mais os recursos naturais para se alimentar, vestir e morar; o problema está no excessivo consumo desses recursos por uma pequena parcela da humanidade e no desperdício e produção de artigos inúteis e nefastos à qualidade de vida.

A esse respeito, vale registrar o alerta da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente da ONU (1992):

Muitos dos atuais esforços para manter o progresso humano, para atender as necessidades humanas, e para realizar as ambições humanas são simplesmente insustentáveis – tanto nas nações ricas como nas pobres. Elas retiram demais, e a um ritmo acelerado demais, de uma conta de recursos ambientais já a descoberto, e no futuro não poderão esperar outra coisa que não a insolvência dessa conta.

Segundo Leff (2001) uma racionalidade ambiental se constrói desconstruindo a racionalidade capitalista dominante em todas as ordens da vida social. A racionalidade ambiental, segundo ele, é o efeito de um conjunto de interesses e de práticas sociais que articulam ordens materiais diversas dando sentido e organizando processos sociais conforme regras, meios e fins construídos socialmente.

Neste processo de mudanças e questionamentos é consenso o papel fundamental da educação. A partir daí surgem grandes propostas e discussões, pois sendo a Educação Ambiental (EA) uma dimensão da educação, ela se mostrou uma grande aliada na busca por soluções.

Postulou-se que a Educação Ambiental é um elemento essencial para uma educação global orientada para a resolução dos problemas por meio da participação ativa dos educandos na educação formal e não-formal, em favor do bem-estar da comunidade humana (MININNI-MEDINA,1994).

Para Dias (1994), a Educação Ambiental representa um processo no qual deveria ocorrer num desenvolvimento progressivo de um senso de preocupação com o Meio Ambiente baseado em um completo e sensível entendimento das relações do ser humano com o Meio Ambiente.

A Educação Ambiental (EA) é um processo educativo e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade da vida e a atuação consciente e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente, tendo em vista a qualidade de vida individual, coletiva e do planeta (Loureiro, 2002, p. 69).

Para outros autores, como Reigota (1994), a educação ambiental deve ser entendida como educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza.

A Lei Federal 9795, sancionada em 27 de abril de 1999 que institui a “Política Nacional de Educação Ambiental” descreve a educação ambiental como : “Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”

Ainda segundo a Lei todos têm direito à EA, e é obrigação do poder público definir políticas públicas que incorporem dimensão ambiental; promover EA em todos os níveis de ensino -promover o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. É de responsabilidade de empresas, instituições públicas e privadas devem promover programas para capacitação dos trabalhadores, para melhorar controle sobre ambiente de trabalho, e controlar impactos do processo produtivo no meio ambiente.

Por que fazer educação ambiental nas escolas?

Melo (1996) considera a Educação Ambiental como um processo dinâmico de construção de novos valores, atitudes e posturas éticas, a partir de uma educação libertária que resgate a cidadania, repensando os padrões de consumo e produção, e o respeito à diversidade ecológica, cultural, social e política, culminando numa sociedade ecologicamente sustentável.

A concepção de Porto (1998), apesar de similar ao anterior, apresenta mais alguns elementos, tratando a questão que diz respeito à preocupação com as gerações futuras. Para o autor, Educação Ambiental poderia ser definida como todas as ações, atividades e manifestações destinadas a desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e que tenha compromisso para atuar na busca de soluções para os problemas ambientais existentes e para prevenção dos novos, visando, inclusive garantir condições adequadas para a vida das atuais e futuras gerações.

Diante de todos estes aspectos apresentados no texto, cabe a pergunta: se a educação ambiental é tão importante na formação de indivíduos, por que não acrescentá-la no currículo escolar?

Segundo Vasconcellos (1997), a presença, em todas as práticas educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra. Dentro desse contexto, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação de atividades que propiciem essa reflexão, pois isso necessita de atividades de sala de aula e atividades de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem à autoconfiança, a atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar (DIAS, 1992).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), propostos pelo Ministério da Educação (1997), incluem a temática do Meio Ambiente como um tema transversal nos currículos escolares. Este tema é tratado de modo integrado a outras áreas do currículo, como também relacionado ao contexto histórico e social no qual a escola encontra-se inserida. Este documento deixa clara a necessidade de se desenvolver novas práticas que definam também novos modos de pensar a educação como um todo.

A educação ambiental nas escolas poderia propiciar a melhoria das condições de vida, de trabalho e de educação do público interno e externo à escola; dar condições para que os educadores e alunos atuem na transformação da realidade; contribuir para o desenvolvimento do senso de responsabilidade por meio da participação ativa na prevenção e solução de problemas socioambientais.

A escola é considerada um ambiente ideal para educar em parâmetros ambientais, uma vez que tem o intuito de formar cidadãos conscientes de seus deveres e direitos, que respeitam o próximo e (por que não?) o meio ambiente.

Como fazer educação ambiental nas escolas?

A escola deve desenvolver estratégias educativas para atingir todos os alunos em sua meta de educação ambiental, ampliando a confiança e afetividade do grupo. É papel também da instituição reforçar experiência da aprendizagem ajudando na eliminação de tensões e cansaço do esforço de aprendizagem e promover diálogos estratégias educativas.

O papel do educador

Como educador ambiental, o professor deve colocar sua capacidade técnica em função social e elaborar estratégias com a turma para buscarem juntos um conhecimento novo e potencialmente valioso para a solução de problemas.

O professor deve colocar as questões chamadas de ambientais no centro e no início de todos os planejamentos. Além disto, deve, juntamente com a turma, avaliar os impactos resultantes da vida deles no planeta, verificando se não há alternativas para minimizar estes impactos.
Cabe também ao educador, juntamente com a direção da escola, calcular os custos de cada ação ambiental, e verificar se ela é viável ou não.

A formação de um educador ambiental, dentro ou fora da escola, vai além de um curso de biologia Ou de propostas de arte-educação envolvendo brinquedos feitos com sucata. A meta ideal é um educador que vire sujeito-pesquisador, estimulando seus alunos a pensarem sobre a complexidade das questões ambientais dentro de um contexto social e econômico. E, mais ainda, inspirando-os a serem co-responsáveis e a participarem, individual e coletivamente, na busca de soluções para nossos problemas.

Um desafio para os educadores seria a estimulação de atividades participativas onde seus educandos, dentro ou fora da escola, poderão atuar de forma ainda mais significativa no enfrentamento das crises e na busca de soluções. Um ótimo exemplo seria que seria muito interessaste um professor propor uma oficina de reciclagem. Mas não seria ainda mais interessante tornar a coleta seletiva uma realidade no bairro, na cidade?

Dificuldades para incluir a EA nas escolas

Embora a prática seja considerada ideal, há ainda escolas que não usam a educação com parâmetro curricular. Segundo Andrade (2000), fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição destes professores em passar por um processo de treinamento, vontade da diretoria de realmente implementar um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola, etc., além de fatores resultantes da integração dos acima citados e ainda outros, podem servir como obstáculos à implementação da Educação Ambiental.

Outro aspecto é que a Educação Ambiental não se dá por atividades pontuais, mas por toda uma mudança de paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela e, por isso, as dificuldades enfrentadas assumem características ainda mais contundentes. Lavrarques (1999), analisando as pesquisas da educadora ambiental Vera Mandel, observa que em geral as pessoas são resistentes a mudanças em relação aos seus hábitos que podem causar degradação do meio ambiente. Mesmo sabendo das conseqüências negativas que esses atos possam acarretar, praticamente não ocorrem mudanças no comportamento das pessoas. A probabilidade do risco não é suficiente para que as pessoas mudem suas atitudes.

A EA na educação não formal

A educação ambiental contribui para que o indivíduo seja parte atuante na sociedade, aprendendo a agir individual e coletivamente na busca de soluções. Esse papel educacional tem sido cumprido pela educação formal – nas escolas – e pela educação não formal, realizada pelas ONGs, organizações de cidadãos, associações de moradores e trabalhos voluntários.

Segundo Sorentino (1991), a Educação Ambiental não formal também capacita e incentiva o indivíduo a acreditar em si próprio e no fazer coletivo, tornando mais fácil o diálogo entre a sociedade civil, o Estado e as empresas, possibilitando a construção de uma ação social que privilegia a diluição do poder, a potencialização do indivíduo e do pequeno grupo e a proteção, recuperação e melhoria da qualidade do ambiente e da vida.

Autora: Kira Lusa Manfredini

 


Referências Bibliográficas

 

ANDRADE, D. F. Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. In: Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4.out/nov/dez 2000.

BRASIL, Lei nº 9795 de 27.04.99. Política Nacional de Educação Ambiental. D.O. U. 28. 04.99.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.
_________ Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Global, 1994.

LAVRARQUES, Philippe Pomier. Como Desenvolver uma Consciência Ecológica? In: Programa de Qualificação do Servidor Público: Educação Ambiental. Governo Federal/Ministério do trabalho e emprego/Plamfpr/Fat/SETASCAD/Fundação João Pinheiro, 1999.

LEFF, Henrique. Saber ambiental, sustentebilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2001.

LOUREIRO, C.F.B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da Cidadania ecológica e planetária. In: LOUREIRO, C.F.B.;

LAYRARGUES, P.P. & CASTRO, R. S. de. (Orgs.) Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania. 2ª edição. São Paulo: Cortez, 2002.

MININNI-MEDINA, Nana. “Elementos para a introdução da dimensão ambiental na educação escolar – 1º grau”. Amazônia: uma proposta interdisciplinar de educação ambiental. Brasília, IBAMA, 1994.

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994, 62 p.

SORENTINO, M. Educação ambiental, participação e organização de cidadãos. Em Aberto, Brasília, v.10, n.49, p. 47-56, jan./mar. 1991.

VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos de Educação Ambiental. In: PEDRINI, A. G. (org). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.

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