Por uma ética universal

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Autora: Regina Laura Monteiro Teixeira

A década de 70 marcou o início de um novo comportamento em relação ao meio ambiente. O crescente número de problemas ambientais procedentes do desenvolvimento industrial exigiu reflexão e novos compromissos dos governos e sociedades.

Em 1972, a preocupação com o crescimento econômico em detrimento ao meio ambiente foi colocada em pauta na primeira Conferência da ONU sobre o tema, em Estocolmo, na Suécia.

Em 1987, foi lançado o documento “Nosso Futuro Comum” que consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável, capaz de atender as necessidades atuais, sem comprometer as gerações futuras de satisfazer as suas necessidades. A preocupação com a sobrevivência do planeta lançou a semente que iria gerar a assinatura da Agenda 21, na Eco 92, no Rio de Janeiro.

Um dos princípios da Agenda 21 é a decisão por consenso, com a participação e o comprometimento de todos na construção de uma sociedade sustentável, baseada no respeito a todas as formas de vida, com padrões de produção e consumo capazes de atender as necessidades básicas dos cidadãos, sem provocar desequilíbrios sociais e ambientais, como pobreza, injustiça social, contaminação do ar, do solo e das águas, desperdício de recursos naturais e degradação ambiental.

Pôr em prática os princípios da Agenda 21, porém, não é tarefa fácil. Para Moacir Gadotti, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, o novo modelo de desenvolvimento precisa de uma nova sustentação ética.

Para Simone Vicente de Azevedo, especialista em Direito Ambiental e idealizadora do programa Educacional “Futuras Gerações”, essa nova ética exige desprendimento e desapego para que se possa reconhecer a existência de interesses difusos, que recuperem a visão de totalidade para a humanidade.
Essa ética planetária, que a especialista qualifica como a única força capaz de mobilizar a comunidade para promover mudança de postura em prol da natureza, vai ao encontro do pensamento do filósofo alemão Hans Jonas, para quem a ética antropocêntrica precisa ser substituída por uma nova ética, que inclua o meio ambiente como digno de direitos e deveres.

O novo dever ético não se dirige à ação do indivíduo, mas ao agir coletivo, impulsionado pelo sentimento de responsabilidade e temor, como coloca Hans Jonas sobre os desafios do ser humano na nova civilização tecnológica do Terceiro Milênio, em resposta à crise ecológica.
A ideia central da ética para a civilização tecnológica, desenvolvida por Jonas, constitui-se no dever e na responsabilidade do ser humano com relação à natureza e ao futuro das próximas gerações humanas sobre a Terra. Esse é o pensamento que deve levar Ademar Heemann, Doutor em Filosofia da Educação e professor do curso de doutorado em meio ambiente e desenvolvimento da UFPR, a concluir: “ética é um mecanismo propiciador da sobrevivência”.

Ainda que não se tenha um consenso sobre essa nova ética, que admite muitas interpretações e desdobramentos, é notória a presença desse sentimento de responsabilidade com as atuais e futuras gerações na atitude dos indivíduos que saem de seu isolamento para pensar e agir de forma coletiva.

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