Estima-se que, na região Nordeste, existam mais de 100 mil poços profundos, com vazões médias em torno de 2 mil L por hora.
É importante ressaltar que, na maioria dos casos, as águas desses poços apresentam teores de sais superiores a 1 g L-1, tornando-as impróprias ao consumo humano. Entretanto, essas fontes de água são essenciais aos animais, em especial, para os caprinos, cuja demanda de água para dessedentação de todo o rebanho da região é da ordem de 40 milhões de m³ por ano. A Embrapa Semiárido, em parceria com outras instituições, desenvolveu um sistema de produção integrado em que foram estabelecidos parâmetros para o aproveitamento das águas salobras ou salinas, tanto para os consumos humano e animal, como para a produção vegetal e a aquicultura (Porto et al., 2004).
Várias pesquisas no tema foram desenvolvidas envolvendo manejo da irrigação com água salobra/salina nas culturas feijão, beterraba, sorgo forrageiro e granífero, milho e erva-sal (forrageira) (Nogueira Filho et al., 2003; Assis Júnior et al., 2007; Carvalho Júnior et al., 2010; Guimarães et al., 2016; Simões et al., 2016), com informações sobre técnicas de manejo da água como: as frações de lixiviação (FL) ideais, sendo esta uma quantidade de água superior à necessária, que se aplica para proporcionar a redução da quantidade de sais da zona radicular da cultura; e as variedades adaptadas ao meio salino, destacando-se a escolha do solo com boa drenagem para facilitar a lixiviação dos sais no período chuvoso, o que facilita novos ciclos de cultivo.
Em relação à ingestão pelos animais, do ponto de vista da salinidade, águas com altos teores de sais, assim como aquelas que contêm elementos tóxicos, representam perigo, podendo afetar a qualidade da carne e do leite produzido. O manejo do consumo animal com relação à salinidade da água tem como base a classificação de Runyan e Bader (1994). Ressalta-se que a utilização ou a ingestão de água pelo animal pode estar diretamente relacionada a diferentes variáveis, além da qualidade (Nutrient…, 2007).
Outra alternativa é o uso de águas salobras/salgadas para a aquicultura. Espécies como a tilápia (Oreochromis niloticus) e o camarão-branco-do-pacífico (Litopenaeus vannamei) são próprios para serem cultivados em águas salobras, uma vez que são rústicas e de manejo dominado no Brasil. Atualmente, há a possibilidade de produzir tilápia e camarão de forma intensiva usando água proveniente de poços salinizados. Nesse sistema, os rejeitos da piscicultura estão sendo indicados para o cultivo de culturas tolerantes à salinidade que servem para alimentação humana e animal (Dias et al., 2012). Entretanto, conforme descrito anteriormente, esse modelo de agricultura biossalina exige que o manejo seja sustentável de forma racional, econômica e ambiental.